Sussurros e…

Ecos do Passado XVI
 
 
Sonho ou pesadelo? O que aconteceu, enquanto dormia profundamente e com momentos  agitados, foi marcado por angústia. Coisa difícil de explicar. Mais fácil será tentar descrever os fatos, as ações e movimentos, alguns muitos tensos.
 
Nevoeiro ao cair da noite. Imagens desfiguradas, horripilantes, impossíveis de serem identificadas, clareadas de maneira a se tornarem suportáveis. Ouve-se gritos vindo de muito distante. Alguém estaria pedindo socorro, com voz quase inaudível. Apurando os ouvidos podia-se distinguir que eram pedidos de socorro.
 
Figuras à semelhança de espectros vaporosos, que se desfaziam nas sombras, se moviam bamboleantes para cima e para baixo, avançando sempre, desapareciam  em alguns momentos para voltarem em seguida, ainda sem possibilidade de identificação. Se afiguravam como fantasmas esvoaçantes, espalhando vapores no ar rarefeito e nebuloso.
 
E as vozes agora se multiplicavam em sussurros vagarosos, parecendo lamentos de pessoas em perigo iminente ou de quem algum parente ou amigo tenha falecido minutos antes. As vozes vão sumindo lentamente até não serem mais audíveis.
 
Fecha-se os olhos por alguns instantes e ao reabri-los descobre-se à frente, não muito longe, uma fileira de casas e de uma delas sai um homem alquebrado, meio curvado para a frente, cabelos em desalinho e molhados, com mechas embranquecidas entre os pretos naturais, vestido com trapos, calça e camisa rotas e sujas, fez um aceno com a mão direita, mas à sua frente não se via ninguém. Não se sabe para quem acena. Sabe-se que à sua frente tem um vasto horizonte vazio.
 
Luíza acorda em sobressalto, suando muito e assustada. Tateia com a mão trêmula o colchão da cama cuja coberta se apresenta inteiramente em desalinho. Acredita que, naquele momento, tinha voltado à vida. Veio-lhe à lembrança daqueles momentos terríveis, assustadores. Pensou que tudo não passara de um sonho, de um pesadelo assustador, com aquelas vozes ainda zumbindo nos seus ouvidos.
 
Olhando ao redor do quarto viu as cortinas impedindo a passagem da luz que vinha de fora. Não! Olhou para o relógio da mesinha de cabeceira e descobriu que ainda era noite, entrando pela madrugada. Exausta, tinha adormecido por mais de três horas desde que chegara em casa do passeio pelas ruas centrais de Niterói. Lembrou-se da espera angustiante de um táxi na Praça XV, Centro do Rio.
 
As crianças já estavam na cama. A empregada, uma senhora que morava ali perto, deixou Luíza dormir e esperou que ela acordasse no meio da noite para depois ir embora.  O marido de Luíza ainda não tinha chegado, embora já fosse tarde. Ela não se importava com isso porque não lhe era significativo. De uns tempos para cá, quando tudo começou a mudar em sua vida, a presença ou não do marido em casa não tinha nenhum significado.
 
 

2 comentários em “Sussurros e…”

  1. Caro Fred,
    linda a montagem da ilustração desse capítulo do Ecos do Passado.
    Parece realmente um sonho, mas com traços de realidade, realidade de um passo um pouco distante, distante daqui e da gente.
    A linda montagem, meu querido Fred, da maneira que você a fez, faz crer que estivemos vivendo essa realidade com alguém que, não sendo Luíza, seria mesmo assim uma bela mulher no alvorecer da vida.
    Abraços do
    Pereirinha

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