Acontece que em situa\u00e7\u00f5es assim surge a vontade de buscar uma sa\u00edda. Sim. Uma sa\u00edda, qualquer sa\u00edda. Mas…qu\u00ea sa\u00edda? Ela simplesmente, mesmo dizendo compreender, n\u00e3o entenderia bem uma decis\u00e3o dessa. Ora… mas isso n\u00e3o pode ser por toda a vida, n\u00e3o. Num outro dia, as coisas n\u00e3o seriam assim, n\u00e3o, com fei\u00e7\u00e3o de acabadas, definitivamente acabadas. Agora, sim, tudo parece que acabou. Mas n\u00e3o, n\u00e3o acabou porque \u00e9 muito complicada uma decis\u00e3o dessa natureza. A pessoa luta intensamente para se reencontrar, reconhecer-se nesse processo de reconstru\u00e7\u00e3o org\u00e2nica, com tudo que seja parte de si, mas n\u00e3o consegue. Simplesmente n\u00e3o consegue. E o tempo vai passando, passando rapidamente. Sabe que tem que se recompor. Vestir-se e sair, mas tamb\u00e9m n\u00e3o consegue. Luta com seus pensamentos. Ora pensa em sair desse quarto correndo, fugindo de tudo, esquecer tudo. Ora pensa em ficar, arranjar as coisas at\u00e9 mesmo para que fiquem amigos, para que sejam, da\u00ed pra frente, verdadeiros amigos, para que tenham uma verdadeira amizade. Est\u00e1 apiedada ou mesmo arrependida de que tenha chegado a essa situa\u00e7\u00e3o. Apiedade dela pr\u00f3pria e tamb\u00e9m dele.<\/div>\n
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Vira-se e olha para a janela. A chuva continua firme e forte, mas sem trov\u00f5es e rel\u00e2mpagos. Volta a cabe\u00e7a e fixa os olhos no corpo em p\u00e9, ereto \u00e0 sua frente e v\u00ea nele uma esp\u00e9cie de espantalho. Um cad\u00e1ver em p\u00e9. Num vislumbre tira o espantalho da mente, tira o cad\u00e1ver da mente, e lembra de momentos antes quando ainda estavam no bar do hotel, acalentando-se ao som, \u00e0 voz, de Tom Jobim. Sente na boca o gosto, o sabor do coquetel de frutas com u\u00edsque que ele lhe ofereceu. Lembrou da m\u00e3o delicada, macia, que afagava a sua com do\u00e7ura. E de ambos caminhando, lado a lado, sem se tocarem.<\/div>\n
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Na verdade s\u00f3 se tocaram no t\u00e1xis, quando ele abra\u00e7ou-a e beijo-a na boca com sofreguid\u00e3o. Beijo ardente de quem ama com paix\u00e3o. Amor. Paix\u00e3o. Seria verdade!? N\u00e3o, n\u00e3o seria. A verdade \u00e9 que ele a acompanhava de longe, quereria para si como uma esp\u00e9cie de aventura. Uma conquista que deveria esquecer. Poderia, sim, de vez em quando se encontrarem. Mas isto n\u00e3o seria aconselh\u00e1vel. Ela casada, com filhos. E ele tamb\u00e9m casado, n\u00e3o se sabe se com filhos ou n\u00e3o, de qualquer maneira esses encontros \u00e0s escondidas, mesmo que fortuitos, n\u00e3o seriam nada aconselh\u00e1veis.<\/div>\n