A noite e suas lembranças – Ecos do Passado IX

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O pensamento vagueia ao longe, enquanto seu corpo repousa. Nada o incomoda, nem mesmo a leve brisa que sobressai da calmaria da noite invadindo a varanda de casa, balançando a folhagem do pomar. Um cheiro suave invade o ar, a casa e o corpo do homem que parece não existir para o mundo.
Num determinado momento o corpo estremece levemente. Alguma lembrança. Sim. Talvez alguma lembrança de um passado não muito remoto. Um passado que permanece no subconsciente que retornava para agitar os pensamentos. Ao mexer-se corpo faz uma leitura desse passado. Os lábios esboçam um leve sorriso, mas não se expandem, não demonstram largueza. É apenas um esboço de um riso interior.

Um pequeno retrato de mulher, uma jovem mulher conduzindo duas crianças, caminhando devagar, sem pressa nenhuma, distraída, focada apenas nas crianças. As crianças parecem se divertirem. Não vão para a escola. Estão passeando. Sim. Estão fazendo um passeio pelo parque. Lá na frente, outras crianças se divertem sob o olhar vigilante das mães que conversam entre si, mas sem tirar os olhos das crianças.
Em sua mente, a mulher lhe parece familiar. Estranho é que ele não tinha essas informações: ela tem filhos, dois filhos, um menino e uma menina. Não sabia que era casada e não sabia nada a respeito da vida dela, da família, do marido e dos filhos. Entregou-se ao devaneio. Mas…a imagem fugiu. A mente repentinamente ficou vazia, não tinha mais nada, nem mulher, nem crianças, nem parque.
Nada. Nada.

Voltando a si, Luiz descobriu-se na varanda de casa, olhando para o vazio. A brisa cresceu e virou ventania, prenúncio de tempestade, devolvendo-o à realidade presente. Sentado estava, sentado ficou, imóvel e pensativo, procurando descobrir-se nesse mistério. Cochilou, adormeceu e foi tragado pela brisa que o conduziu ao sonho inesperado da fresca noite de verão.

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