Chapa Quente

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(Pereira da Silva, Pereirinha)
Graça Matos finalmente, depois de muito procurar, vasculhar em todos os cantos e recantos das cidades fluminenses, descobriu o temido, o mais terrível e mais assombroso dos seres abjetos da terra, que seria o fantasma de Maricá.
Ele, a fera, estava escondido, mas de olho em tudo que pudesse aparecer nas cercanias do palco político da cidade que pena, cujo povo sofre terrivelmente com medo dos animais políticos.
Graça foi habilidosa, qual caçador que espreita sua presa, que afasta tudo e todos que possam espantar o animal arisco. O fantasma, ensimesmado, rugiu. Seu grito, no entanto, não era de medo, mas sinal de astúcia.
Pouca gente, a não ser aqueles outros animais políticos, conhece de fato a natureza de um fantasma, bicho que vive nas sombras, que se esgueira pelos cantos silenciosamente, sem mostrar o rabo.
Graça e o fantasma travaram uma luta de titãs, mas a braçadas, cotoveladas, chutes e pontapés. Não fizeram uso de espadas, nem de machados ou picaretas. Sabem por quê? Porque o fantasma não poderia ser ferido de morte.
Graça foi sagaz. O fantasma tem que agonizar, sangrar, sofrer e morrer de morte morrida e não de morte matada. Ele, que fez tudo para acabar com Graça e não conseguiu, preferiu jogar o jogo da inimiga e aceitou conviver com ela.
Graça, porém, não é boba. Farejou direitinho o expediente do animal. Ah, é assim, bicho do mato! Verás, seu malandro, que não fujo da luta. Teria pensado, e pensado muito bem, a fêmea dos diabos.
Fantasmas se combatem com as próprias armas do tinhoso. E foi o que ela fez, rodando a saia para atrair o malvado à sua tocaia. Foi preciso, porém, esquecer tudo ou fingir que esqueceu. Fingir que o fantasma destruiu a obra de Ezequiel. Fingir que o fantasma fez isso para acabar com a herança deixada por Ezequiel. Fingir que o fantasma pretendeu varrer da face da terra o nome do Ezequiel.
Fingir que ela própria seria, como foi, no início dos anos, também vítima do fantasma. E tem mais…aguardem, por favor.

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