De Malandros e Bandidos

Malandro, há alguns anos, era sinônimo de cara esperto. Vagabundo, sujeito desocupado. Bandido, ladino. Tudo isto, no entanto, não significava naqueles tempos desrespeito e desumanidade. Em verdade, tudo se resumia em estilo de vida. Os três até se desculpavam por estar se apropriando das coisas alheias. Os malandros, vagabundos e bandidos se vestiam com simplicidade, de maneira singular. Hoje, alguns bandidos usam terno, e até com gravata, dissimulando apenas para confundir ou criar visões aparentemente saudáveis.
Nos dias de hoje, malandro, vagabundo e bandido são palavras quase sinônimas e seus respectivos sujeitos trabalham, uns à luz do dia, outros protegidos pelas sombras da noite, em situações de perigo, arriscando a vida. Malandros, vagabundos e bandidos, queridos leitores, são, sim, trabalhadores em ambientes insalubres em qualquer lugar que atuem. No trabalho, assaltando ou roubando o semelhante, eles podem contrair doenças, serem feridos e até mortos.
O fim não justifica os meios, mas, convenhamos, esses homens e mulheres, buscam a sobrevivência, ganhar o pão de cada dia, o leite das crianças, mesmo sabendo que nesse labor diário ao invés de prolongar a vida põe fim a ela e vão para o céu ou para o inferno. Há os que, no desespero em que se encontram, acham que não têm nada a perder e, portanto, seguem praticando os atos mais abomináveis.
Isso provavelmente não tenha conserto nem remediação à vista, mas cabe às autoridades trabalharem no sentido de diminuir esse concerto lamentável da vida que coloca todos os seres num mesmo claustro escuro, sem perspectivas de verem a luz. A educação é um dos meios adequados para se alcançar no futuro uma sociedade civilizada e educada, com emprego e renda, sem que seja preciso roubar e matar.
Ao invés de se construir mais presídios para abrigar mais criminosos, num intuito de proteger a sociedade, construa-se mais escolas, estabeleça-se melhores condições de sobrevivência para o povo, às famílias, homens, mulheres e crianças. Os governos devem pensar, não apenas nas suas próprias famílias, mas nas famílias de todos, nas famílias que compõem o quadro social do país, dos estados e dos municípios.
A segurança pública é fundamental na composição desse quadro de sobrevivência. Mas não basta termos uma polícia preparada militarmente, com o objetivo de vencer o crime pela força das armas ou pela astúcia, manobrando para enganar os meliantes. Uma polícia inteligente não é aquela que persegue e descobre o escondirijo dos salteadores, assaltantes e traficantes, mas, sim, a que age humanamente e indica o caminho da retidão.
Depurar os quadros policiais dos seus elementos perniciosos, dos que agem como bandidos, também é necessário, mas também é importante que se eduquem os agentes da segurança pública, pois é por todos os títulos condenável uma associação espúria entre policiais e bandidos. Não se pode aceitar que agentes da lei atuem de maneira a permitir que a criminalidade se institua como império do medo, pois eles próprios e suas famílias também serão vítimas do crime que praticam.
Estabelecer um clima de respeito mútuo no seio social, entre os agentes policiais e as famílias, vendo-se naqueles partes indissociáveis das próprias famílias e, portando, da sociedade, é fundamental para a sobrevivência de todos. Vejam, o que adianta termos um Batalhão da Polícia Militar, com 500, mil ou cem mil soldados, dezenas delegacias de polícia civil, se seus integrantes não se respeitam nem são respeitados? Não adianta nada. São simplesmente coisa sem valor e sem valia.
PS: O 7º BPM está instalado nas portas do bairro Trindade, mas nesse bairro as famílias vivem assustadas, amedrontadas, porque os roubos, os assaltos, são quase diários, e essas famílias em estado de insegurança acreditam, embora não falem, que não estão protegidas.
E de quem seria a culpa? Do 7º BPM, do seu comando e dos seus soldados? Sim e não.

______________________________________________________
* Pereira da Silva, Pereirinha é secretário da União dos Jornalistas e Comunicadores de São Gonçalo (UNIJOR), editor do jornal Metrô Car e colunista dos jornais Monitor Mercantil (Rio) e Jornal de Hoje (Nova Iguaçu).

1 comentário em “De Malandros e Bandidos”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *