O Voo da Liberdade

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Não é bom revolver o passado. Traz lembranças boas e algumas desagradáveis que deveriam ser esquecidas. Deixadas para trás. Certo dia, quando a noite se aproximava, com o sol descambando no horizonte, aconteceu uma coisa que assustou.
Uma visão. Visão translúcida, deslumbrante, mas que assustou. De início foi agradável. Motivo de alegria, mas depois…a boa visão se transformou em pesadelo. Motivo de apreensão.
Uma ave sobrevoa um riacho em linha reta, agitando as asas muito graciosamente. Planava também. Foi se distanciando até sumir de vista. Foi encontrada mais adiante à margem do pequeno rio de águas límpidas que corriam mansamente. Ela e muitas outras, mortas e depenadas.
Predadores.
O mundo está cheio de predadores. Na natureza, nas florestas, nos rios e nas cidades. Aquila imagem causou apreensão, arrepio e medo. Sem dúvida aterrador, mas…
Somos todos mais ou menos predadores.
Num quarto de hotel, de uma pousada, de uma hospedaria, tira-se ou nasce uma vida. A fêmea se entrega com repugnância, com nojo, com um gosto amargo na boca ou com prazer. Muitas se entregam com prazer e satisfação deliciosa. E depois…? O que acontece? Só ela no seu íntimo sabe e às vezes nem sabe descrever o prazer que sentiu ao ser penetrada, possuída. Mas quem foi forçada, brutalmente possuída, sabe perfeitamente o tamanho da desonra, da vergonha. De qualquer maneira é uma coisa triste, terrível, assustadora.
As pequenininhas tinham esperança e essa esperança foi-lhes destruída junto com a vida. A fêmea teria se acabado naquele quarto de hotel, naquela noite de tempestade se não lhe restasse a esperança, a esperança de se reencontrar na vida. Ele se foi e ela também ao convívio da família, dos amigos.
Ele desapareceu. Provavelmente não voltariam a se encontrar. Aquela noite foi um terrível pesadelo. Um pesadelo que, quem sabe, se transformara numa coisa boa ou má. Ninguém saberia dizê-lo, mas nem sempre as coisas que assustam, que desnorteiam, são inteiramente terríveis.
Às vezes não.  O fato é que aquela imagem da avezinha voando, planando, significava liberdade de viver, de gozar a vida, um prazer único. Uma andorinha, a exemplo de outras aves migrantes, percorre um vasto mundo. Um mundo para muitos desconhecido.

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