MENSAGENS PARA CAROLINA IV
Carolina,
Demorei um pouco a lhe escrever, pois passei algum tempo refletindo sobre a vida, sobre os preocupantes acontecimentos que veem varrendo o noticiário no Brasil e no exterior, sobre a situação que o mundo atravessa no momento: os problemas ambientais do Planeta; o conflito de ideologias nos Estados Unidos; a influência da Rússia no mundo; a interminável guerra no Oriente; atentados na Europa; no Brasil a crise moral, estendendo-se para a política, a economia, os problemas de saúde com doenças anteriormente extintas, voltando a fazer vítimas como a Dengue, a Zika, a Chikungunya, a febre amarela, e vai por aí afora. Cansei de pensar!
Dias atrás, eu conversava com uma amiga e ela falou dessas dificuldades que estamos passando e eu comentei das minhas preocupações quanto ao mundo e da sensação que eu tenho de que alguma coisa grandiosa, nova, diferente, está para acontecer (talvez ocasionada pela minha ansiedade em relação ao futuro) no que ela, após fazer um gesto típico de arrepio, respondeu: “Jesus não vai permitir que nada de mau nos aconteça, tenha fé, o futuro a Deus pertence!”. Sutilmente mudei logo de assunto prá não perder a amiga, pois, todos os fatos citados acima estão acontecendo realmente no mundo e o Brasil não está fora de contexto, portanto, estão sendo “permitidos” há muito tempo.
Desculpe se estou sendo chato, mas, acho que devido a minha visão diferente, acabo entrelaçando as idéias e o resultado é a minha implicância com pensamentos desse tipo que levam as pessoas a fecharem os olhos para a realidade e a ocultá-la atrás de pensamentos e frases de efeito, de cunho religioso, relativas a Deus e a Jesus, como se isso esgotasse o assunto e o resolvesse por definitivo. Como se não devêssemos fazer nada, sequer entender para poder agir. Aliás, sobre isso, já dispus meu pensamento na mensagem “Saindo da Matrix”, que não vou repetir aqui.
Como Espírita Cristão, entendo que, por mais que leiamos, que busquemos informações e sentido, estamos longe de entender a verdadeira missão de Jesus aqui na Terra para afirmarmos que Ele vai fazer isso, permitir ou não aquilo. Sabemos que Ele veio, iluminou nossos caminhos e nos proporcionou inúmeros exemplos, vivenciando os Seus ensinamentos e depois, pela nossa ignorância, foi crucificado, como era costume fazer, na época, com criminosos, quando foi cometido o maior ato de injustiça jamais registrado neste Planeta de Provas e Expiações.
Afinal, que crime Ele cometeu? Por que Ele não se defendeu, não fugiu, não lutou pela Sua vida e nem permitiu que seus seguidores combatessem os soldados romanos que o procuravam, já que estavam em vantagem numérica naquele momento? E por que, já nos estertores da vida terrena, pede ao Pai para nos perdoar? Parece que há algo muito além de amor e bondade que não conseguimos compreender ou imaginar nesse contexto e que não conseguimos enxergar com exatidão, já que Ele não afirmou nada sobre a sua missão nem deixou nada escrito. Aliás, Ele afirma “Eu não vim destruir as leis, mas sim fazê-las cumprir”. De quais leis Ele falava, das leis de Moisés, das Leis do Universo ou das Leis de Deus? Lembremos que, dentre os Seus ensinamentos morais, Ele destacava a “Lei de Amor” e pregava uma nova filosofia: “Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Eis aí um ensinamento moral que não deveríamos esquecer, pois parece uma Lei Universal que só os espíritos evoluídos conseguem absorver e cumprir.
No entanto, alguns segmentos religiosos mais ortodoxos e conservadores, entendem que Ele veio para “morrer na cruz e dar o seu sangue para nos salvar”. Pergunto: Salvar de que? Do castigo do fogo eterno? Que Pai infinitamente bom e justo legaria tal sofrimento a um filho? Afinal, não nascemos simples e ignorantes e somos seres evolutivos? Devemos pagar e arder eternamente no fogo do inferno por termos feito uma opção errada num Planeta de livre-arbítrio? E como fica o ensinamento de que “nenhuma ovelha do Bom Pastor seria perdida”, se muitas vão para o inferno? Pensando bem, se Ele deu a sua vida para “nos salvar”, parece que esse objetivo ainda não foi alcançado, haja vista a quantidade de “pecadores e sofredores” que pululam em todos os segmentos da sociedade, inclusive no religioso, onde deveriam servir como exemplo.
No entendimento expresso na Doutrina Espírita, Jesus participou diretamente da criação deste Planeta e é o seu “Governador Espiritual”, não cabendo, assim, dentro de um raciocínio lógico, assegurar que Ele teve a sua origem a partir daqui apenas pelo fato d’Ele ter encarnado uma vez neste Planeta. Seria um pensamento muito mesquinho em relação à grandeza desse Ser que pouco conhecemos, mas que muito amamos e respeitamos.
Para um Ser iluminado da Sua envergadura, parece pouco compreensível que toda a sua missão tenha sido realizada em tão curto período de tempo de três anos apenas, embora Sua vida aqui, reconheçamos, foi tão importante, que a sua impoluta presença dividiu o tempo em duas eras: “Antes e Depois de Cristo”. Conheceu-se também a verdadeira lei Divina – o amor – e a filosofia que Ele pregou continua sendo disseminada até hoje, mesmo tendo passados mais de dois mil anos após a Sua encarnação. Mas, cabe ainda perguntar: O que Jesus fez antes dos trinta anos, e ainda, o que mais veio fazer aqui, tomando-se por referência os escritos bíblicos versus toda a sua condição e potencialidade?
Observemos, Carolina, que é muito interessante e considerável a informação contida no “Livro de Urântia”, que tenho certeza você conhece – apesar da recomendação de que o seu conteúdo não seja usado como religião – onde afirma-se que Michael de Nébadon encarnou na Terra, por sua escolha pessoal, recebendo o nome de Joshua Ben José, objetivando a sua auto-outorga, após a criação de um Universo originado da Nebulosa de Andronover. Se Jesus teve realmente esse objetivo, durante todo o tempo em que esteve aqui, seus atos faziam parte de um processo dentro de um contexto por nós desconhecido, desde o nascimento até a sua sofrida crucificação, posterior ressurreição (?) e saída em definitivo do mundo carnal, e que tiveram uma finalidade que integrava esse algo maior, ficando todos os belos ensinamentos e exemplos que deixou, como parte dessa coisa maior, que ainda não conseguimos entender, e que avaliamos caber somente aos espíritos de alta pureza e envergadura como Ele.
Análises e estudos do ex-padre, professor, radialista e escritor Carlos Torres Pastorino (Rio: 04/11/1910 – Brasília: 13/06/1980), que dedicou-se ao estudo da Doutrina Espírita e dos fenômenos mediúnicos, apontam para conclusões análogas, na sua publicação “Sabedoria do Evangelho”, as quais esclarecem e combinam, de certa forma, com as do “Livro de Urântia”, apontando para a participação de Jesus num ritual de iniciação esotérica (conhecimento oculto que somente alguns iniciados podem atingi-lo), onde Pastorino assinala os sete passos seguidos por Jesus, no capítulo referente ao episódio da “Transfiguração” no Monte Sagrado, conclusões sobre as quais faço questão de registrar que não fazem parte do conteúdo doutrinário do Espiritismo, mas que sugiro a sua leitura e estudo por mostrar-se interessante àqueles que gostam de aprofundar-se nesses augustos mistérios, lembrando que Jesus, pela Sua grandeza, não tinha nada a expiar, mas podia aceitar as provas a que submeteu-se e impôs-se para completar o rito da auto-outorga, escolhendo este Planeta de Provas e Expiações para tal e, como era esperado, passando sublimemente em todas as provas.
Enfim, Carolina, é estudar, pesquisar e chegar às próprias conclusões sem o pesadelo de estar cometendo algum pecado ou infringindo alguma lei, pelo fato de tentar entender melhor a presença de Jesus neste Planeta. Enquanto isso, volto a refletir sobre a vida, esvaziando o meu velho arquivo de idéias e renovando com outras que satisfaçam e deem respostas às minhas novas perguntas.
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“Estou podando o meu jardim, estou cuidando bem de mim…” – Da música “Meu Jardim” – Vander Lee (Saudoso Poeta, Compositor e Cantor)
Abraços,
Elson Antunes
Fev/2017