Saindo da Matrix – Mensagem para Carolina II

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Carolina,

Mesmo com os níveis de informações e esclarecimentos atuais, ainda vemos muitos orientadores religiosos exercendo a sua tirania como supostos donos da verdade. Refiro-me a um livro lançado por uma liderança cristã que, segundo as notícias veiculadas sobre o mesmo, tem trechos que atacam outras religiões, inclusive cristãs, comportamento que a minha condição humana não consegue aceitar. Não vejo problema nas religiões, mas nas pessoas, muitas delas seguidoras fanáticas que não conseguem quebrar a casca que as envolvem, que as cegam, impedindo-as de ver a luz e de evoluir, tornando-as escravas, aprisionadas na ideia do absolutismo religioso. Fico pensando com os meus botões se não são pessoas que só leram – e ainda lêem – um único livro na vida e lembro de um antigo professor de português que sempre recitava o provérbio “Fuja do homem de um livro só”.

Este início de século foi marcado como uma era de muita informação e liberdade (ainda que relativa) e, mesmo assim, pasmem, há lideranças religiosas que conseguem atrair e “abduzir”, de forma sutil, às vezes até imperceptível, grande número de pessoas para o interior do seu opaco “dome” de vidro, aprisionando a mente das pessoas que se deixam levar pela ilusão ou pela fé irracional, esperançosas de perdão dos seus pecados, de garantir um lugar no céu, de felicidade eterna e saúde plena, dentre outras coisas. Nesse ambiente de confusão mental e cegueira coletiva, quero destacar dois pontos de interesses: 1º – A dos defensores movidos pela fé e dogmas religiosos, de conteúdo conservador ou mais liberal; 2º – A dos aproveitadores inescrupulosos que, movidos por interesses espúrios, se valem da pobre condição humana para se locupletarem à custa da ignorância alheia e da equivocada percepção da realidade. Para esses “vendilhões do templo”, manter esse estado de coisas entre o seu rebanho é fundamental para que se mantenham no cume da efêmera ilusão das conquistas materiais.

Alguém já disse que “ter informação é ter poder”. Sendo assim, uma das formas de se dominar uma pessoa e até um povo, é restringir-lhe ou negar-lhe informação e conhecimento, seja ele qual for, pois, impedir o pensamento é difícil, mas dificultar a expansão do raciocínio, de refletir e de fazer comparações, é possível, basta cortar o suprimento de informações e conhecimentos. Assim agem muitos, dificultando as pessoas de enxergarem uma nova realidade, de encontrarem alternativas de entendimentos e de interpretação, de forma mais racional, doutrinando-as a seu bel-prazer o que, em suma, consolida e mantém as pessoas nas sombras da ignorância. É uma forma de domínio do homem pelo homem, tornando-os, em muitos casos, incapacitados sequer de pensar e agir sozinhos, de ter suas opiniões respeitadas, de utilizar o seu livre-arbítrio.

Mesmo hoje, há casos que lembram a Europa pré-romana onde o povo Celta, considerado bárbaro, recorria à atuação do Druida, sacerdote e líder religioso, que opinava e decidia como juiz, atuava nos casos de aconselhamento e também de curandeirismo. Mas, ao contrário dos atuais, percorriam um caminho espiritual de natureza pagã e não Cristã.

Um exemplo dessa forma de atuação, é a situação que uma amiga passou recentemente, quando teve que se afastar da igreja onde havia começado a frequentar com o seu companheiro, por que os dois não estavam casados oficialmente. Foram chamados para conversa e aconselhamento e, depois de explicarem seus motivos particulares, não foram aceitos como membros até que se casem. Estão na dúvida se vão aceitar.

Como se vê, a opacidade do “dome”, distorce e até impede a visão de quem está dentro dele, e a presença das sombras externas dá a ilusão de se caminhar dentro da verdade absoluta e de estar agindo em consonância com a vontade de Deus, de quem não sabemos nada ou quase nada, pois ainda nos confundimos até para defini-Lo e entendê-Lo, apesar da quantidade de leitura disponível sobre o assunto.

Para reflexão e para que não fiquem aqui registradas apenas as minhas ideias, quero de antemão reafirmar a minha posição como espírita cristão – racional, mas não radical – e encerrar essa exposição ilustrando-a com a interessante forma de pensar do filósofo holandês Baruch Spinoza (1632 – 1677) que, já naquela época, expunha seu juízo crítico à religião, dizendo que ela era alimentada pelo medo e pela superstição, criando obrigações desnecessárias, atitudes inócuas e absurdas. Defendia o Panteísmo, pregava uma religiosidade racionalista e não acreditava na divindade do Cristo, separando a pessoa “Jesus” do Criador “Deus”, mas O colocava como o primeiro entre os homens.

Como vemos, seu pensamento filosófico pode ser considerado profano, mas, convenhamos, de caráter libertador, muitos dos quais compartilho, o que obviamente colidia com a religião dominante da época, fechada em torno de si, e que não permitia outro entendimento dos textos bíblicos que não o seu, enclausurando, dessa forma, os seus seguidores nas sombras do desconhecimento e nas suas ortodoxas interpretações dos ensinamentos morais provenientes dos Hebreus e do Cristo Jesus.

Alguns pensamentos de Spinoza: “Um entendimento finito não pode compreender um infinito”; “O ignorante chama de milagre os eventos extraordinários da natureza”; “A fé sem obras é morta”; “Buscar a igualdade entre os desiguais é um absurdo”. Segundo ele, os “pensamentos de Deus” seriam: “Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor”; “Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.

Como posso te culpar, se respondes a algo que Eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que Eu poderia criar um lugar para queimar a todos os meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso? … Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Não Me procures fora! Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti”.

Ainda, na sua visão Panteísta: “Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti…. quando beijas a tua amada, quando agasalhas a tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar”.

Spinoza foi acusado de heresia e excomungado em 1656 pela Igreja, pois mostrava-se irredutível quanto a sua opinião, criticando os dogmas e os rituais sem sentido, bem como o luxo e a ostentação da Igreja. Não se converteu ao cristianismo, mas nem por isso deixou de proferir seus pensamentos acerca da religião, muitos dos quais classificamos como sábios, embora ditos no Século XVII, mas que continuam verdadeiros em pleno Século XXI.

Como pode ver Carolina, ainda temos muito que avançar. Optemos pela porta estreita do conhecimento que, certamente, conduz à liberdade e permite o acesso à matrix que ainda nos mantém prisioneiros em seu útero, que impede o nosso “fiat lux”, não nos deixando nascer verdadeiramente para a vida. Saiamos da obscuridão e do medo, para que possamos desvendar os mistérios da vida, do tempo e do Universo.

“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” – Jesus.

Abraços,

Elson Antunes

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