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História – Professor Frederico Carvalho https://www.fredericocarvalho.com.br Seriedade e Respeito a São Gonçalo Sun, 21 May 2017 15:03:16 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.2.5 https://www.fredericocarvalho.com.br/wp-content/uploads/2020/09/cropped-favicon-32x32.png História – Professor Frederico Carvalho https://www.fredericocarvalho.com.br 32 32 Dois senadores imperiais https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/dois-senadores-imperiais/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/dois-senadores-imperiais/#respond Sun, 21 May 2017 15:03:16 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1612 Continue a ler »Dois senadores imperiais]]>

São Gonçalo pode (e deveria) orgulhar-se de dois senadores imperiais que aqui estiveram, por motivos diversos: o goiano José Inácio Silveira da Motta, que foi dono da Ilha das Flores, e o baiano Joaquim Jerônimo Fernandes da Cunha, cujos  últimos anos de vida passaram-se em um sítio em Rio do Ouro.

Silveira da Motta nasceu em Goiás em quinze de fevereiro de 1811, foi enviado por seu pai a Lisboa para formar-se em direito na Universidade de Coimbra, mas, com a criação do curso jurídico em São Paulo, preferiu retornar ao país e aqui diplomar-se. Órfão aos 21 anos, tornou-se arrimo de família e não deixou de estudar, vindo a ser diretor da Faculdade de Direito paulista e alcançou notoriedade pelas defesas de réus nas quais sustentava teses inovadoras, depois incorporadas ao mundo jurídico brasileiro.

Eleito deputado provincial em Goiás, exerceu o mandato de 1842 a 1850, ano em que viria a ser escolhido deputado geral (hoje, federal) pela província de São Paulo, onde já se fixara. Durante os quatro anos seguintes, exerceu a deputação e foi escolhido senador, representante de Goiás, mandato em que permaneceu de 1855 a 1889. Nesse período, adquiriu a Ilha das Flores, em Neves, São Gonçalo, onde passava temporadas com a família e brincava com os filhos, sobretudo o Artur (1844, SP, capital – 1914, Rio de Janeiro, RJ), que viria a ser o Barão de Jaceguai. Ali também enfrentou um dos maiores dissabores de sua vida: no dia 18 de janeiro de 1874, seu filho Júlio César foi passear de canoa, naufragou e morreu afogado. Quatro anos depois, o senador vendeu a ilha para o Governo Imperial instalar uma hospedaria de imigrantes, atual base da Tropa de Reforço da Força de Fuzileiros da Marinha do Brasil. De autoria do então deputado Silveira da Motta é a lei de 12 de junho de 1862 que estabelecia, entre outras medidas, a proibição de venda de escravos sob pregão e exposição pública, bem como proibia que, em qualquer venda, fossem separados o filho do pai e o marido da mulher, hoje considerada a primeira lei brasileira de proteção das crianças.

Conselheiro de Estado e detentor da comenda da Ordem da Rosa, no grau de oficial, Silveira da Motta não fazia da Ilha das Flores apenas um local de lazer. Pelo contrário, ali investiu em inovações, como a criação artificial de peixes de água salgada para o comércio e também o repovoamento da Baía de Guanabara, já na época sentindo os efeitos da pesca predatória. Construiu seis piscinas, alimentadas pela água do mar, onde criava doze mil peixes, de nove mil espécies, especialmente meros, robalos, garoupas e badejos.

O projeto era tão bom que interessou ao Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, que lá mandou uma comissão (José Agostinho Moreira Guimarães, Henrique de Beaurepaire Rohan, A. Vítor de Borja Castro e Francisco Manoel Álvares de Araújo), em 10 de março de 1876, a qual ficou entusiasmada e propôs sua compra pelo governo imperial, o que veio a ocorrer em novembro de 1878, por 500 contos de réis. Com isso, Silveira da Motta afastou-se da propriedade e ficou a viver exclusivamente no Rio de Janeiro, aonde veio a falecer em 16 de outubro de 1893.

Já Fernandes da Cunha teve aqui presença menos notável, embora sua história seja engrandecedora. Nascido em Juazeiro, Bahia, em 30 de setembro de 1827, veio para o Rio de Janeiro ainda criança e fez estudos secundários no Colégio Perret, ingressando a seguir na Escola Central, mas desistiu da engenharia e formou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Olinda, em 1847, tendo sido promotor público de Sento Sé e de Recife, de 1848 a 1854. Deputado provincial baiano de 1853 a 1856 e deputado geral (federal) de 1857 a 1860, o imperador Pedro II nomeou-o senador pela província da Bahia, em quatro de abril de 1871, havendo tomado posse em 17 de maio seguinte e exercido o mandato até a proclamação da República, em 1889.

Desde 1877 já fixara residência em Niterói, onde morara em São Domingos, Icaraí e Praia das Flechas, e acabou sofrendo duplo e rude golpe a 15 de novembro de 1889, data em que foi proclamada a República e na qual faleceu sua mulher, Ana Adelaide Neto Fernandes da Cunha, que lhe dera o filho Joaquim Jerônimo da Cunha Júnior, advogado que faleceu em Niterói em 1934.

Fiel à Monarquia e traumatizado com a morte da esposa, afastou-se da vida pública e recolheu-se à fazendola que possuía em Rio do Ouro, São Gonçalo, onde passou a viver da pequena lavoura. Certamente, com a perda do poder os amigos desapareceram e ele começou a enfrentar sérias dificuldades de sobrevivência, a tal ponto que a própria República decidiu, em 26 de julho de 1900, conceder-lhe uma pensão. Em primeiro de agosto seguinte, mantendo sua dignidade, Fernandes da Cunha recusou a pensão, argumentando, entre outras razões: “Rejeito a graça e, salva a intenção, repilo-a como afronta e ultraje à minha obscura pessoa e à minha pobreza honrada.”

Sua saúde começou a agravar-se e, em julho de 1903, recolheu-se à residência de seu cunhado, almirante Francisco José Coelho Neto, no bairro de São Domingos, em Niterói, e ali veio a falecer em 31 de agosto seguinte. Sepultado no Cemitério de Maruí, dezenas de coroas ornaram seu esquife, entre elas a do Barão do Rio Branco com a inscrição “Homenagem do amigo e velho admirador”. Fernandes da Cunha é patrono da cadeira 36 da Academia de Letras da Bahia e foi nome da antiga Estrada do Rio do Ouro Pequeno, até 1984, quando a Câmara Municipal de Niterói o substituiu por proposta do vereador Paulo Henrique de Oliveira, sob o argumento de que não sabia quem fora o senador. Lá, como cá, ignorância há.

 

Fontes: Site do Senado da República na internet.

            Banco de Deputados da Câmara dos Deputados – Bandep.

             Relatório do Chefe de Polícia, p. 14, anexo à mensagem do presidente da província Manoel José de Freitas Travassos, à Assembléia Legislativa Provincial, em 08-09-1874.

             Relatório de comissão especial do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, de 20/03/1876, acervo de Rui Aniceto Fernandes.

            Veronese, Josiane Rose Petry, Os Direitos da Criança e do Adolescente, Editora LTr, 1990.

            O Fluminense, 15/11/1878, p. 4; e 01/09/1903, p. 2.

            Academia de Letras da Bahia.

            As ruas contam seus nomes, de Emmanuel de Macedo Soares, p. 392/393.

            Almanak Laemmert para 1880, suplemento, p. 134.

    

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Nosso Homem na Serra https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/nosso-homem-na-serra/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/nosso-homem-na-serra/#respond Sun, 23 Apr 2017 00:29:29 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1583 Continue a ler »Nosso Homem na Serra]]>

 

Um dos mais destacados gonçalenses no final do Império e princípio da República foi, sem dúvida, o médico Hermogênio Pereira da Silva, a quem a sua cidade natal não dedica uma só homenagem, embora sua memória seja cultuada no município pelo qual se empenhou, projetando o nome de São Gonçalo além de seus limites: Petrópolis.

Filho de Hermogênio Pereira da Silva (seu homônimo) e de Cândida Tibre Pereira da Silva, nasceu na Fazenda Engenho Novo do Retiro (destruída por descaso do governo estadual na década de 1990), em Cordeiros, São Gonçalo, em sete de janeiro de 1848. Casou-se com Maria Antônia Abreu e Souza [Pereira da Silva], de quem teve sete filhos, enviuvou e realizou segundas núpcias em 1885 com Carolina de Sá Carvalho [Pereira da Silva], que lhe deu mais três filhos. Faleceu em cinco de maio de 1915 em Petrópolis, onde foi sepultado.

Lembrado em outras cidades, Hermogênio Silva  não é lembrado no município em que nasceu: São Gonçalo.

Hermogênio ingressou na Escola de Medicina da Corte e, ainda estudante, foi como voluntário para a Guerra do Paraguai, de lá retornando para concluir o curso e viajar à Alemanha, em 1872, onde se especializou em oftalmologia, com passagem por hospitais alemães, franceses e ingleses. Ao voltar ao Brasil, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, RJ, e ali não apenas praticou a profissão como ingressou na política.

Vereador na Câmara Municipal carioca, de 1881 a 1884, apresentou projetos que indicavam sua aguda visão por serem a antecipação de obras depois realizadas e fundamentais para o Rio, como o Corte do Cantagalo e os Túneis Velho, Santa Bárbara e Rebouças. Mas, sua posição no legislativo da Corte era incômoda. Suas lembranças da escravatura e do coronelismo na região em que nascera (Cordeiros, São Gonçalo) colocavam-no contrário tanto à escravidão quanto à monarquia.

Por isso, ao encerrar-se o mandato, em 1884, resolveu subir a serra e foi para Petrópolis, onde empunhou a bandeira pela emancipação dos escravos e participou da criação do primeiro clube republicano fluminense, de que foi secretário. Sua luta pela República valeu-lhe a nomeação para delegado de polícia da cidade serrana e, a seguir, presidente do primeiro Conselho de Intendência (com funções de prefeito), na qual ficou até agosto de 1890, quando se desentendeu com o governador Francisco Portela e foi exonerado, juntamente com todos os intendentes.

Os ventos políticos sopravam-lhe favoravelmente e pouco depois Portela era deposto. Assumiu o governador José Tomás da Porciúncula que, em 17 de dezembro de 1891, nomeou o novo Conselho de Intendência de Petrópolis, entregando sua presidência a Hermogênio Silva. A 31 de janeiro de 1892 era ele eleito constituinte estadual, com o que veio a ser um dos signatários da Constituição de nove de abril seguinte.

Mais votado para a primeira Câmara Municipal republicana de Petrópolis, no pleito de 16 de junho de 1892, tomou posse no dia 30 e em primeiro de julho foi escolhido presidente do Legislativo (com funções de prefeito), cargo que ocupou também em 1893, 1894, 1896, 1897, 1901, 1902, 1904, 1908, 1909 e 1910, ano em que, a 14 de abril, renunciou à vida pública. Nesse período, foi o responsável em especial pelo cumprimento do plano original do major Júlio Frederico Koeler para a construção de Petrópolis, respeitando-lhe as condições geográficas, ecológicas, culturais e humanas.

A atuação de Hermogênio Silva não esteve, entretanto, limitada à cidade serrana. Além de ter sido constituinte estadual em 1892 e permanecido no mandato como parlamentar estadual, foi eleito terceiro vice-presidente (vice-governador) estadual em 15 de julho de 1894 para o período 1895/1897, exerceu o cargo de secretário estadual de Obras Públicas e Indústrias, em 1898 e 1899, e, cumulativamente, o de Interior e Justiça, em dois meses deste último ano. Reeleito para a ALERJ, foi seu presidente de 1901 a 1903, ano em que renunciou ao mandato em protesto contra o retorno da capital do Estado de Petrópolis para Niterói. Eleito senador da República em 1909, Hermogênio não teve o mandato validado pela Comissão de Reconhecimento dos Poderes, que existia naquela época para validar ou não o resultado das urnas. Este foi um dos motivos para abandonar a vida pública no ano seguinte.

Se Hermogênio Silva foi ignorado por seus conterrâneos gonçalenses, o mesmo não se deu em outras cidades. Em Três Rios, no centro-sul fluminense, ele dá nome a um dos bairros e à estação ferroviária local. E Petrópolis honra sua memória com várias homenagens: é patrono do centro cívico da Escola Municipal São Cristóvão, da rua que liga o bairro Pic-Nic à Estrada União e Indústria, do Paço Hermogênio Silva, sede do Legislativo, e do plenário da Câmara Municipal, onde se encontra seu retrato, além de placa com seu nome e datas de administração, na escadaria interna.


Fontes: Arquivo da Câmara Municipal de Petrópolis.

            Sá Earp, Arthur Leonardo, monografia.

            Vasconcellos, Francisco, Petrópolis: Sua Administração na República Velha, 1978.

            Instituto Histórico de Petrópolis.

            O Paiz, 06-05-1915, Biblioteca Nacional.

            Jornal do Commercio, 06-05-1915, Biblioteca Nacional.

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O sonho do hipódromo https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/o-sonho-do-hipodromo/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/o-sonho-do-hipodromo/#respond Sun, 09 Apr 2017 15:05:57 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1570 Continue a ler »O sonho do hipódromo]]>

 

Paulo Correia de Albuquerque não imaginava o que lhe aconteceria, ao aceitar o desafio que lhe fez o amigo Antonico do Caranguejo, naquele domingo, dois de novembro de 1860: montar o cavalo deste último, na tradicional corrida dominical de Cordeiros. Paulo disparou ao sinal, mas o cavalo viu o terreno onde costumava pastar, pulou a cerca e estancou, atirando o cavaleiro de cabeça em uma árvore de camará. De concussão cerebral, Paulo morreu ali mesmo.

Durante todo o século XIX, as corridas de cavalo eram praticamente a única distração esportiva – com o “plus” de uma aposta – que existia na cidade, pois o futebol e outras modalidades aqui só chegaram no século XX. Que o diga o comerciante da Venda da Cruz, que as promovia todos os domingos em frente a seu estabelecimento comercial, mas não se identificava, para evitar problemas. Era o princípio de 1885, porém bem antes, em 1857, os jornais já anunciavam corridas no Fonseca e no Maruí, com cavalos do Cabo, para onde os gonçalenses iam quando por aqui não havia nada similar programado.

Portanto, era natural que aqui também se quisesse algo oficial do gênero: afinal de contas, já existiam pelo menos cinco hipódromos no Rio e, na Província, os municípios de Petrópolis e Nova Friburgo tinham os seus. E não existiria na capital da Província? Absurdo.

Por isso, em 28 de fevereiro de 1885, reuniram-se 27 pessoas, por iniciativa do médico Paulo Cesar de Andrade (1848/1899) e do conde de Herzberg (Carlos de Herzberg nasceu em Hanôver, Prússia, atual Alemanha, em 11 de janeiro de 1822, era capitão reformado do exército prussiano e instrutor de cavalaria, veio para o Rio, foi um dos fundadores do Jóquei Clube Brasileiro e empresário funerário no Rio, era casado com Leopoldina Suckow e faleceu em 15 de setembro de 1899), para criar o hipódromo do lado de cá da Guanabara. A presidência dos trabalhos coube inicialmente ao dr. Paulo César, que a transmitiu ao comendador e empresário Domingos Moitinho quando este chegou ao evento. O fazendeiro em Neves, José de Moraes e Silva, ofereceu ampla área junto ao mar e, para avaliá-la, foi composta comissão integrada pelo Conde Herzberg, comendador Henrique Possolo, Francisco Luiz Tavares, Cesar Bourbon e o engenheiro Dionísio da Costa e Silva, ao mesmo tempo tendo sido adotados provisoriamente os estatutos e o código de corridas do jóquei da corte. Dias depois, a comissão estimou em 6:000$000 o valor do terreno, tendo sido assinada em 27 de abril a escritura de compra.

O hipódromo construiu um cais de atracação para receber as lanchas da Companhia Ferry vindas do Rio e de Niterói.

Antes, em 15 de março, foi realizada a reunião de eleição da diretoria (médico Paulo Cesar de Andrade, presidente; Henrique Possolo, vice-presidente; Leopoldo da Cunha Júnior e o médico Torquato de Gouveia, 1º e 2º secretários; e Bernardo Belisário de Lemos Silva, tesoureiro) e dos conselhos geral e fiscal. Aceitou-se a avaliação do terreno oferecido por Moraes e Silva e decidiu-se a denominação do hipódromo: Guanabara. Para construí-lo, foi aberta concorrência, de que participaram o construtor Inácio Tavares de Souza, de Botafogo, e a Sociedade Edificadora, de São Cristóvão, que propuseram 36:500$000 e 59:000$000, vencendo a primeira participante. O projeto, do engenheiro Dionísio da Costa e Silva e do arquiteto Heitor de Cordoville, previa raia de 1300 metros de extensão e arquibancadas com 138 metros para 1300 a 1400 pessoas, além das demais dependências. As obras tiveram início em 23 de maio, com previsão de conclusão a tempo de sua inauguração em sete de setembro, mas as chuvas causaram o retardamento por dois meses.

Porém, como levar os espectadores até lá? O próprio hipódromo construiu um cais de atracação para receber as lanchas da Companhia Ferry vindas do Rio e de Niterói; a Ferro Carril Urbano de Niterói, cujos bondes iam até o Barreto, solicitou, e obteve em 25 de maio, autorização para estender seus trilhos até Neves (cuja inauguração foi realizada em 18 de outubro); e o próprio José de Moraes e Silva abriu em suas terras uma rua, a que denominou Cônego Goulart (como é até hoje), para garantir o acesso daqueles que chegassem à estação da Estrada de Ferro Leopoldina, nas imediações.  

A festa de inauguração foi algo excepcional. Para atrair visitantes, até então só tínhamos a Festa do Divino Espírito Santo, na Igreja Matriz de São Gonçalo, e o hipódromo marcou época. No dia oito de novembro de 1885, era ele inaugurado com pompa e circunstância. A empresa Carris Urbanos de Niterói colocou mais bondes em circulação entre Niterói e Neves, a Companhia Ferry (que fazia a ligação marítima entre Rio e Niterói) criou linhas especiais da corte diretamente às Neves, aproveitando o cais que neste hoje bairro de São Gonçalo fora construído, e diligências, tílburis e charretes faziam a ligação do centro de Niterói e também do arraial de São Gonçalo com o novo prado.

Sem hipódromo, sequer ficamos a ver navios, pois a ponte de atracação ali construída também foi abandonada; e nem ficamos a ver cavalos.

Depois das providências de praxe, com a banda do corpo policial (atual PMERJ) tocando as músicas da época e com o desenlace da fita inaugural, passou-se ao que interessava: as corridas. O primeiro páreo (Nictheroy) foi vencido por Sova, chegando em segundo lugar o cavalo Tchan Tchin-Tsung: o segundo páreo (Conde de Herzberg) teve como vencedores Aymoré e  África; o terceiro (Oito de Novembro, data da inauguração), Bilter e Americana: o quarto (Animação) teve tantos animais (17) inscritos, que foi dividido em duas séries, vencendo a primeira as éguas Carolla e Bela Yayá e, a segunda, os cavalos Savana e Didi; o quinto (Experiência), Pastor e Sudamerikanyche; o sexto (Hyppodromo Guanabara), Pheynea e Garibaldi; e o sétimo e último páreo (Criadores), foi vencido por Garibaldi e Jaguary. As corridas variavam em extensão de 850, 1000, 1200 ou 1609 metros. O volume de apostas superou as expectativas: 52:680$000.

O leitor poderá estranhar que aqui não haja a citação dos jóqueis vencedores. Mas é preciso explicar: na época (e até boa parte do século XX), os importantes eram apenas os animais e não os seus condutores, notícia apenas quando se acidentavam. Que o diga o jóquei Francisco Luiz, que começou sua carreira no Hipódromo Guanabara, em Neves, deslocou-se para o Rio e em seguida para São Paulo, alcançando grandes vitórias e renome. Porém, na capital paulista, foi contaminado de tuberculose, voltou com a família para Neves e ali faleceu em janeiro de 1901, na mais completa pobreza.

Durante o restante do ano de 1885, as coisas foram bem, mas a partir de abril de 1886 começaram os problemas: em Niterói e todos os seus distritos (inclusive São Gonçalo) não havia gente com dinheiro (e interesse) em número suficiente para movimentar o prado e atrair o pessoal da corte não era fácil, posto que lá funcionavam quatro prados, dos quais só restou um, o Jóquei Clube Brasileiro, ainda hoje existente. O deslocamento dos cariocas até o outro lado da baía não valia a pena. As brigas internas eram tamanhas que o médico Paulo Cesar de Andrade (patrono da Rua Dr. Paulo César, em Icaraí, Niterói) resolveu se afastar e, em primeiro de maio seguinte, uma nova diretoria foi eleita, tendo Érico Peña à frente. Porém, o público reduzido continuava. Comissão composta de Fróes da Cruz, Francisco Luiz Tavares e Carlos de Azevedo foi ao presidente da província, em agosto de 1886, pedir mais uma viagem dos trens nos dias de corrida, mas não foi atendida. Até o cônego João Ferreira Goulart se envolveu e conseguiu uma vitória parcial: em janeiro de 1887, a província autorizou que a Carris Urbanos fizesse mais uma viagem de bonde aos domingos, até o prado. Mesmo assim, a situação não melhorou e as disputas internas cresceram, a ponto de Frederico do Couto ofender um dos pioneiros, José de Moraes e Silva (poeta, jornalista, fazendeiro, vereador, presidente da Câmara Municipal e, em decorrência, Chefe do Executivo) na assembleia de dezembro daquele ano. A partir de janeiro de 1888 aumentou-se o número de viagens de barcas. De novo, o resultado foi pífio na atração de frequentadores vindos da corte. Em setembro seguinte, assumiu nova diretoria presidida por Francisco Luiz Tavares, que instalou uma agência de inscrições de cavalos e para apostas no Rio e dividiu as pules (consideradas caras) em frações, a fim de atrair apostadores de menor renda. De novo, resultado nulo.

             Bem que, proclamada a República e transformada a Província em Estado, seu primeiro governador, Francisco Portela, ainda tentou dar uma ajuda, ao patrocinar o Grande Prêmio do Estado do Rio de Janeiro, que correu no dia nove de março de 1890 com prêmio valioso para o vencedor. O esforço, entretanto, foi em vão. Em outubro daquele ano, nova mudança de diretoria, agora de novo presidida pelo dr. Érico Peña, que levou três meses tentando reanimar o Hipódromo Guanabara.

Entretanto, as divergências acumulavam-se e o prado só dava prejuízo financeiro. Por isso, no princípio de 1891, decidiu-se pela dissolução da entidade e foi nomeada uma comissão liquidante. A área, de 59.310 metros quadrados, foi levada a leilão em oito de abril daquele ano pelo seu ex-diretor e leiloeiro Afonso Nunes, que também leiloou os móveis no dia 14 do mesmo mês. O vencedor do primeiro leilão foi o comendador João Monteiro de Queiroz (1830-1907), com proposta no valor de 55:000$, mas ele acabou por abrir mão de seu direito em favor da Companhia Hime, que nas proximidades já possuía a Companhia Siderotécnica (a primeira metalúrgica fluminense, criada em 1856), a Companhia Brazil Metalúrgica e a Companhia Industrial do Brasil. Com a área adquirida, as três empresas expandiram-se e fundiram-se no século seguinte para a criação da Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas (CBUM), vendida muitos anos depois para o Grupo Gerdau, que encerrou as atividades daquela indústria pioneira na década de 1990, causando desemprego na região.

Sem hipódromo, sequer ficamos a ver navios, pois a ponte de atracação ali construída também foi abandonada; e nem ficamos a ver cavalos.

O fracasso, entretanto, não afetou dom Carlos Gianelli, cônsul do Uruguai no Rio de Janeiro e proprietário da Fazenda Guaxindiba, onde ele instalou raias de corrida de cavalos para animar os visitantes, na década de 1890, e depois criou a Tramway Rural Fluminense (TRF), com bondes puxados por locomotivas a vapor, de Neves a Alcântara, para o transporte urbano e também a fim de facilitar o acesso àquele prado privado, desativado na primeira década do século XX. O fracasso, já agora acumulado, também não desanimou o Clube Recreativo Flor de São Gonçalo nem o Hero Club de Alcântara, que fizeram seus próprios prados (o primeiro, no atual bairro de Mangueira; e, o segundo, no bairro do Coelho) e os inauguraram em agosto e em outubro de 1912, respectivamente. Igualmente, tiveram eles curta duração. Nem afetou o entusiasmo do empresário, de ascendência italiana, Francisco Docca, que instalou uma pista de corridas de animais (além de cavalos, cachorros) na localidade de Gambá, em 1925, reformou-a por exigência das autoridades e a reabriu em 1927, mas que também teve curta vida. Restou uma última tentativa, em 1957, quando foi lançado o Jóquei Clube do Estado do Rio de Janeiro, que sequer chegou a se tornar realidade temporária e, vendido em 1959 para incorporadores de loteamentos, transformou-se no que é hoje o bairro do Jóquei.

 

Fontes: A Pátria, 01-04-1857, p. 1; e 15-11-1885, p. 4

            Gazeta de Notícias, 27-04-1886, p. 1; e 08-04-1891, p. 3.

            Echo da Nação, 07-11-1860, p. 4.

            Correio Mercantil, 11-11-1860, p. 1.

            Monitor Provincial, 02-11-1860, p. 1.

            O Fluminense, 18-03, p. 2; 29-04, p. 1 e 2; 01-05, p. 4; 10-05, p. 2; 24-05, p. 2; 18-10, p. 2; 28-10-1885, p. 1; 06-11, p. 2; 08-11, p. 4; e 11-11-1885, p. 1; 01-09-1886, p. 2; 26-01, p. 3; 04-02-, p. 2, e 21-12-1887, p. 3; 15-01-1888, p. 1 e 4; 30-09-1888, p. 1; 31-03-1889, p. 1; 08-10-1890; 30-01-1901, p. 1; 26-08, p. 2, e 26-09-1912, p. 2; e 17-04-1927, p. 1.

            Jornal do Commercio, 03-11-1885, p. 8; e 09-11-1885, p. 2.

            Diário do Commercio, 26-02, p. 4, e 24-07-1890, p. 2 e 3; 10-04, p. 2, e 14-04-1891, p. 1.

            As Ruas Contam Seus Nomes, de Emmanuel de Macedo Soares, p. 216, 217, 255 e 256.

            Relatório da Diretoria de Obras Públicas, p. 42, anexo ao relatório provincial de 08-08-1885.

            Relatório do Diretor de Obras Públicas, Antunes Gurjão, de 15-06-1886, anexo à mensagem da presidência da província à Assemblea Legislativa Provincial, em 08-08-1886.

           Jóquei Clube Brasileiro 130 anos, Rio de Janeiro, de Ney O. R. de Carvalho, 1998.

           

 

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Duzentos anos de Maçonaria https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/duzentos-anos-de-maconaria/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/duzentos-anos-de-maconaria/#comments Sat, 01 Apr 2017 23:32:59 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1556 Continue a ler »Duzentos anos de Maçonaria]]>

 

São Gonçalo deveria ter comemorado (mas não o fez) os duzentos anos da presença maçônica em seu território no ano de 2012. Foi em 1812, em dia e mês não esclarecidos, que aqui teria sido criada a primeira loja maçônica da antiga Província do Rio de Janeiro (na época, vinculada à Corte, subordinação da qual só se viu livre em 1835, com Niterói tornando-se sua capital).

Chamava-se Distintiva e para sua criação veio especialmente de Pernambuco o líder maçônico José Mariano de Albuquerque Cavalcanti (Santana de Acaraú, CE, 20-05-1772/Magé, RJ, 20-08-1844), que se tornou um dos dirigentes, juntamente com Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (Santos, SP, 01-11-1773/Santos, SP, 05-12-1845), irmão do futuro Patriarca da Independência José Bonifácio (Santos, SP, 13-06-1763/Niterói, RJ, 06-04-1838), e o padre Belchior Pinheiro de Oliveira (Diamantina, MG,1775/Pitangui, MG,1856). Antônio Carlos já aqui estava, homiziado, porque era ouvidor em São Paulo, desceu a Santos, sua terra natal, foi acusado de matar o comerciante José Joaquim da Cunha, em 11 de agosto de 1812, e fugiu para terras gonçalenses, segundo escreveu o historiador Alberto de Souza.

A Distintiva tinha liturgia própria e seu propósito era nitidamente republicano. Empolgados com a pregação da emancipação nacional, os maçons começaram a arregimentar seguidores, mas o seu ardor cívico foi interrompido por uma traição. O secretário da Loja Maçônica, padre Belchior, foi surpreendido por uma pessoa de sua intimidade que, na Corte, denunciou a Distintiva ao desembargador Paulo Fernandes Vianna, então intendente geral de polícia.

Ao ser informado sobre a denúncia, padre Belchior jogou na Baía de Guanabara os papéis, livros, selos, timbres e alfaias da Loja, evitando que sobre seus membros recaíssem as perseguições comuns na época. Tudo o que dela se sabe hoje é resultado da tradição oral, passada de geração a geração pelos maçons. Assim, o emblema em seu selo era um índio vendado e agrilhoado (representando o Brasil) e um gênio (o da Liberdade) em ação de desvendá-lo e desagrilhoá-lo. E o descarte dos documentos teria sido junto à Ilha dos Ratos (atual Ilha Fiscal).

Apesar da forte repressão que se seguiu, os maçons continuaram a atuar em São Gonçalo. No dia 24 de junho de 1822, lá estavam eles reunidos no Porto do Méier, em Niterói, onde hoje se localiza o acesso à Ponte Costa e Silva, para empossar a primeira administração do Grande Oriente do Brasil, que havia sido eleita no mesmo local em 28 de maio anterior. O Grão Mestre era José Bonifácio (Santos, SP,1763/ Niterói, RJ,1838) e o Grão Mestre Adjunto, marechal Joaquim de Oliveira Álvares (Ilha da Madeira, Portugal,1776/Paris, França, 1835). O jornalista Joaquim Gonçalves Ledo (Rio de Janeiro, RJ, 1771/Cachoeiras de Macacu, RJ, 1847) foi o Primeiro Grande Vigilante e o padre mestre Januário da Cunha Barbosa (Rio de Janeiro, RJ,1780/Rio de Janeiro, RJ, 1846), o Grande Orador. Finalmente, o coronel Luiz Pereira da Nóbrega [de Souza] Coutinho (Angra dos Reis, RJ, 1778/Rio de Janeiro, RJ, 1826) era o promotor fiscal. Entre os presentes, Belarmino Ricardo de Siqueira [Quintanilha], futuro barão de São Gonçalo.

Deles, três tiveram íntima relação com São Gonçalo. Um foi Gonçalves Ledo, que participara ativamente da preparação da proclamação da Independência do Brasil, mas, acusado de participar de conspiração republicana, juntamente com José Clemente e Pereira da Nóbrega, teve a vida ameaçada e, em 30 de outubro de 1822, refugiou-se na fazenda de Belarmino Ricardo de Siqueira e daqui saiu, protegido pelo cônsul sueco Lourenço Westin, para exilar-se por um ano em Buenos Aires, Argentina.

Outro foi o próprio Belarmino Ricardo de Siqueira (Saquarema, RJ, 1791/Niterói, RJ, 1873), que viria a ser Barão de São Gonçalo, comandante superior da Guarda Nacional, provedor do Asilo Santa Leopoldina e segundo maior banqueiro do país, depois do Banco do Brasil. Proprietário da Fazenda Engenho Novo do Retiro, em Cordeiros, nela recebeu Dom Pedro II e a família imperial várias vezes.  

O terceiro foi Pereira da Nóbrega. Proprietário de uma fazenda em Neves (vendida por sua viúva em 1839), que fazia divisa com a propriedade de José da Silva Brandão (construtor da Ponte do Brandão, hoje chamada de Brandoas), comandou o batalhão aqui estacionado para garantir a expulsão das tropas portuguesas, logo após a proclamação da Independência do Brasil, e deixou descendência, da qual fazia parte sua neta, Maria José, casada em 1880 na Igreja Matriz de São Gonçalo com Antônio José de Castro Guimarães. Nóbrega foi o primeiro presidente da Câmara dos Deputados, ministro da Guerra de Dom Pedro I (primeiro brasileiro nato a ocupar o cargo) e foi deportado para a França, depois de posto a ferros na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, ao ser acusado de conspiração contra o trono, juntamente com Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira (Portugal, 1787/Rio de Janeiro, RJ, 1854, primeiro prefeito niteroiense, com o cargo de Juiz de Fora) e o padre Belchior.  

A mais concreta manifestação da presença maçônica em São Gonçalo, no princípio do século XX, ainda hoje está presente no casarão de Pachecos, construído pelo farmacêutico-químico Augusto Cezário Diaz André na primeira década de 1900 e por ele transformado em hospital durante a epidemia de gripe espanhola em primeiro de novembro de 1918. Suas paredes ostentam os símbolos da Maçonaria, de que ele foi Grão-Mestre.

Porém, a organização oficial e duradoura daquela sociedade em São Gonçalo só veio a ocorrer em 1903, quando foi criada a Loja Evolução. Acusada de rebeldia, foi suspensa em 1907 e só voltou a funcionar em 1912, quando se transferiu para Niterói.

Com aquela transferência, mais uma vez São Gonçalo ficou sem uma representação maçônica local, o que levou um grupo de gonçalenses a se reunir na Rua Feliciano Sodré, 227, em 11 de outubro de 1925 , ocasião em que Antônio Antunes de Almeida, Abílio José de Mattos e Abel Cabral foram eleitos presidente, secretário e tesoureiro de uma comissão provisória, do que resultou a fundação da Loja Maçônica Cruzeiro Fluminense em 25 de novembro de 1925, que funcionou em sede provisória na chácara na Rua Feliciano Sodré, 12 (hoje sede da Instituição Cristã Amor ao Próximo), até a construção de seu templo na Rua Lourenço Abrantes, 100.

Sua primeira diretoria estava assim composta: Venerável, Antônio Antunes de Almeida; 1º e 2º vigilantes, coronel José Carlos da Costa Velho e Belarmino de Mattos; secretário, Abílio José de Mattos; tesoureiro, Alfredo Gomes Mourão; chanceler, Abel Cabral; mestre de cerimônias, Guinaldo Santos Pinheiro; 1º e 2º diáconos, Tiago da Silva Cardoso e Antônio de Almeida Júnior; hospitaleiro, Antônio Maia; cobrador, Portolino Adelantino Saltino; 1º e 2º expertos, Sebastião de Araújo Lessa e Alfredo da Costa Cordeiro; comissão central, Antônio Maia, Jonas Cordeiro e coronel José Carlos da Costa Velho; comissão de frente, Alfredo Cabral, Belarmino de Mattos e Tiago da Silva Cardoso; e comissão de beneficência, Guinaldo Santos Pinheiro, Alfredo Gomes Mourão e Antônio Maia.

A Cruzeiro Fluminense foi regularizada pelo Grande Oriente do Brasil em 17 de abril de 1926 e, em oito de junho de 1926, concedeu seu primeiro título de presidente honorário ao Sr. João Pereira Gomes.

Depois dela, vieram as Lojas Nova Estrela do Oriente (25/12/1950), Monte Ararat (criada em Niterói em 1897, “adormecida” em 1915 e restaurada em São Gonçalo em 04/08/1961), Fênix Gonçalense (17/07/1974), Evolução Gonçalense (04/04/1978), Virtude e Razão (27/03/1982) e Evolução de Alcântara (16/12/2005).

 

Fontes: Emmanuel de Macedo Soares, jornalista e pesquisador de história.

               Relatório da Diretoria Estadual de Obras Públicas, 05-02-1877, p. 16.

               Arquivo Histórico do Exército.

                 Mensagem Maçônica Comemorativa ao Centenário da Instalação da Villa Real da Praia Grande, divulgada em 11-08-1919.

               Duas atas iniciais da Loja Maçônica Cruzeiro Fluminense.

                Werhs, Carlos, “Niterói, Cidade Sorriso”, p. 293, Gráfica Vida Doméstica, Rio de Janeiro, RJ, 1984.

               Casadei, Talita de Oliveira, “A Imperial Cidade de Nictheroy”, p. 87, 88, 259 e 260, Serviços Gráficos Ímpar, 1998.

               Souza, Alberto de, “Os Andradas”, p. 465, 466 e 467, Tipografia Piratininga, São Paulo, SP, 1922.  

               O Fluminense, 16-08-1919, p. 1; 17-04-1926, p. 1; e 08-06-1926, p. 2, Biblioteca Nacional.

               Altino da Silva Diaz André, comerciante.   

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Nosso médico e Obama https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/nosso-medico-e-obama/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/nosso-medico-e-obama/#comments Sun, 26 Mar 2017 13:25:40 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1549 Continue a ler »Nosso médico e Obama]]>

 

A eleição do senador Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos foi uma surpresa para todo o mundo, principalmente por ser negro. Mas não chegou a ser tão surpreendente assim para um gonçalense que vive dividido entre os EUA e o Brasil, o médico Lenor de Sá Ribeiro.

Filho do prefeito Américo José Ribeiro e de dona Conceição [Correia] de Sá Ribeiro, o dr. Lenor nasceu no bairro de Porto Velho, em 23  de setembro de 1919, e ali é patrono da Rua Lenor. Aqui se casou com dona Maria Aguiar Ribeiro, dela tendo os filhos Sílvia (também natural daqui), Elizabeth, Roberto e Mônica (nascidos nos EUA).

Antes, porém, aprendeu as primeiras letras na Escola Primária Santa Cecília (já extinta), no Porto Velho, fez o antigo curso ginasial no Colégio Pedro II e o científico no Colégio Juruena, em Botafogo, ingressou na Faculdade Fluminense de Medicina (hoje, da UFF) e diplomou-se na turma de 1947. Nesta época, já órfão de pai, custeou seus estudos médicos lecionando química em vários colégios de São Gonçalo e Niterói.

Patologista, abriu seu primeiro laboratório de análises clínicas em Niterói, em 1948, e ganhou bolsa de estudos para especialização nos EUA, onde chegou em 1951. Imediatamente, obteve contrato para trabalhar no Davidson County Hospital, em Nashville, Tennessee, onde exerceu várias funções, até chegar a diretor. Em reconhecimento aos serviços prestados, a comunidade local deu seu nome ao novo pavilhão construído naquele hospital, na década de 1980.

Embora radicado em solo americano, em todas as férias retornava ao Brasil, ficando em São Gonçalo ou Niterói, na residência dos parentes. Em 1983, havendo obtido a aposentadoria, dedicou-se por dois anos à restauração da Capela de São João Batista (construída de 1871 a 1876), no Pontal, bairro do Gradim, sua grande paixão desde a infância. A partir daí, passou a residir seis meses nos EUA e seis no Brasil, até que em 2005 agravou-se o estado de saúde de sua esposa, que lhe pediu para morrer no Brasil. Mudou para Niterói, onde ela faleceu em 2007 e teve o corpo cremado no Rio de Janeiro.

De sua experiência nos EUA, uma das coisas mais marcantes foi o intenso racismo vivido nas décadas de 1950 e 1960, que ele conseguiu quebrar, em nível de suas atividades. Escandalizando os norte-americanos, começou por sentar-se à mesa do almoço sempre ao lado de algum negro. Duplo escândalo: um branco e médico junto de um negro mal alfabetizado. Fingia não entender os olhares de reprovação e seguia à frente. Quando ascendeu à direção do hospital, estimulou os negros, até então só empregados em funções subalternas, a fazerem cursos profissionais, o que elevou muitos deles a funções burocráticas maiores e a enfermeiros, alguns chegando mesmo a formar-se em medicina.

Por entender que a educação é o caminho para usufruir da igualdade de oportunidades, o doutor Lenor continuou nesta prática até sua aposentadoria, após a qual dedicou-se não só a dividir-se entre Brasil e EUA como a prestar eventuais serviços às populações pobres de outros países. Hoje, já tendo ultrapassado 90 anos de idade e em plena lucidez, vê a chegada de um negro à presidência do EUA com muito otimismo. Só não supunha que fosse tão rápido. E, havendo falecido a esposa, voltou a fixar-se em Nashville, EUA, para dedicar-se aos filhos e aos netos.  

Nota da Redação: Dr. Lenor de Sá Ribeiro faleceu em 27 de novembro de 2015, aos 96 anos, pouco tempo depois deste artigo ter sido escrito.

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A visita de Lima Barreto https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/a-visita-de-lima-barreto/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/a-visita-de-lima-barreto/#comments Sun, 12 Mar 2017 15:17:53 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1527 Continue a ler »A visita de Lima Barreto]]>

 

Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881 e faleceu em São Paulo, SP, em primeiro de novembro de 1922. Em 1908 esteve em visita a São Gonçalo e este é um fato relevante para mim. Por quê?

Primeiro, porque sua avó, Geraldina, era escrava na Fazenda Colubandê e considerada “cria” da família Pereira Carvalho, então proprietária daquelas terras, até a década de 1840, quando as vendeu e mudou-se para a Corte. Seu pai era Joaquim Henriques de Lima Barreto e sua mãe, Amália Augusta de Lima Barreto. Diga-se que a expressão “cria”, usada no século XIX e também em boa parte do XX, significava uma adoção não formalizada, um tratamento especial dado àquela criança, educada com esmero por seus “senhores”. Tanto assim devia ser com dona Geraldina, que sua filha (a mãe do futuro escritor) se tornou professora de primeira a quarta séries, profissão que exerceu na então Corte e depois Capital da República, reconhecida por seus alunos como excelente mestra.

Foi ali, na Corte, que Afonso Henriques veio ao mundo e aprendeu as primeiras letras com a mãe, cujo falecimento o levou a freqüentar a escola pública de dona Teresa Pimentel do Amaral. Graças a uma bolsa de estudos concedida por seu padrinho, o Visconde do Ouro Preto, radicou-se em Niterói e frequentou o Liceu Popular Niteroiense até 1894, nele completando os antigos cursos secundário e médio. No ano seguinte, ingressou no Colégio Nacional (Pedro II) e, ao fim do primeiro semestre, foi admitido na Escola Politécnica, sem chegar a graduar-se em Mecânica, reprovado que fora devido ao seu desinteresse pelas matérias e às constantes faltas (gazeteava as aulas para se dedicar à leitura na Biblioteca Nacional). Em 1902, começou a colaborar com jornais e revistas do Rio de Janeiro e, em 1904, internado seu pai por distúrbios mentais, assumiu o ônus de manter a família, o que o levou a fazer concurso, e ser aprovado, para amanuense do ministério da Guerra.

O alcoolismo e a depressão, como ocorrera com seu pai, também levaram Afonso Henriques a constantes internações psiquiátricas, mas em seus momentos de lucidez produziria textos para onze livros, dos quais um (Triste Fim de Policarpo Quaresma) se tornou sua obra principal, entre romances e contos, nenhum reconhecido pelos críticos da época, mas todos hoje formando um conjunto que o tornou um inovador da literatura brasileira. Morreu sem ser reconhecido por seus contemporâneos.

O outro motivo de minha citação de Lima Barreto é o fato de seu relato sobre a visita a São Gonçalo dar uma mostra de como era a cidade no ano de 1908 e fazer referência à Tramway Rural Fluminense, empresa hoje ignorada nos descaminhos da história, embora fundamental para o município, na virada dos séculos XIX e XX. Foi ela uma obra ciclópica, pode-se assim dizer, de Carlos Gianelli, o empresário natural do Uruguai e de família antes procedente da Itália, que conseguiu dar ao município o que de mais moderno existia à época: bondes de tração a vapor, ligando Neves a Alcântara, enquanto na capital do estado, Niterói, eles ainda eram puxados a burro. Além disso, nas Fazendas de Laranjal e Ipuca (hoje, Jardim Catarina), muito realizou, desde um hipódromo (de vida efêmera) até linha de trem própria, embarcadouro para a Baía de Guanabara, criação de gado, plantio de trigo, etc, tudo perdido para o Banco do Brasil, que penhorou aquelas propriedades e as levou a leilão como bens de garantia dos empréstimos para que a Tramway pudesse ser construída em alguns meses. Também esta empresa, que ficou em mãos de seu irmão, Leopoldo Gianelli, depois de sua morte, em 1909, acabou por ser incorporada pela Companhia Cantareira e Viação Fluminense, à época controlada por capitais ingleses (que jogaram pesado para dar fim à concorrência), na década de 1920.

Afonso Henriques de Lima Barreto – escritor

Vejamos, então, o que diz Lima Barreto em seu diário, no dia 10 de fevereiro de 1908:

“Fui ontem a São Gonçalo. É um município limítrofe ao de Niterói. Fui à casa do Uzeda. Uzeda é um segundo oficial da Secretaria da Guerra, casado com uma professora pública do lugar.

Embarquei às oito e meia no Largo do Paço; fazia uma manhã quente e feia, ensombrada de nuvens. Encontrei o Pinho, um meu antigo colega da Escola Politécnica. Vinha de exercícios práticos. Soberbamente insuportável. Indagando da produção do município, não me soube informar com simplicidade. Atribuiu a falta da lavoura à indolência do povo. Tive vontade de perguntar se ele, engenheiro, tendo estudado a química, física e história natural, dava um exemplo salutar, cultivando o sítio onde morava. Calei-me, e foi dizendo bobagens. Fez uma crítica severa às tarifas do Tramway Rural Fluminense. É isto uma pequena estrada de ferro, com carros abertos ao jeito de bondes, que liga as Neves ao município de São Gonçalo. E uma coisa tosca, necessariamente exigindo para a sua manutenção uma série de medidas empíricas, que a prática dita; o idiota do Pinho quer que ela se guie pelos princípios tarifários que regem os fretes das grandes vias-férreas. Disse-me coisas proveitosas, que, por exemplo – o esforço da tração era o mesmo na subida que na descida. É profundo.

As Neves não tiveram, para os meus olhos, nada de notável. Têm o aspecto comum dos nossos postos afastados e edificados. Casas baixas, pintadas de azul, de oca; janelas quadradas; espessas escadas de tijolos e pedras, que dão acesso a portas baixas; fisionomias indolentes de homens pelas portas das vendas; mulheres: negras, brancas e mulatas – tristes, de longos olhares, em que há desejos de volúpias e sonhos de festas, de bailes, fantásticos, de envolvedoras agitações de todo o corpo, capazes de as fazerem esquecer e quebrar a monotonia daquela vida pobre e triste que levam, tão parecida ainda com a senzala, em que o chicote disciplinador de outrora ficou transformado na dureza, na pressão, na dificuldade do pão nosso de cada dia.

Tomei o tramway. Fui vendo o caminho. A linha é construída sobre a velha estrada de rodagem. Em breve, deixamos toda a atmosfera urbana, para ver a rural. Há casas novas, os chalets, mas há também as velhas casas de colunas heterodoxas e varanda de parapeito, a lembrar a escravatura e o sistema da antiga lavoura. Corre o caminho por entre colinas, há pouca mata, laranjeiras muitas, algumas mangueiras.

Eu, olhando aquelas casas e aqueles caminhos, lembrei-me da minha vida, dos meus avós escravos e, não sei como, lembrei-me de algumas frases ouvidas no meu âmbito familiar, que me davam vagas notícias das origens de minha avó materna, Geraldina. Era de São Gonçalo, de Cubandê [NR: Colubandê], onde eram lavradores os Pereiras de Carvalho, de quem era ela cria.

Lembrando-me disso, eu olhei as árvores da estrada com mais simpatia. Eram muito novas; nenhuma delas teria visto minha avó passar, caminho da corte, quando os seus senhores vieram estabelecer-se na cidade. Isso devia ter sido por 1840, ou antes, e nenhuma delas tinha a venerável idade de setenta anos. Entretanto, eu não pude deixar de procurar nos traços de um molequinho que me cortou o caminho, algumas vagas semelhanças com os meus. Quem sabe se eu não tinha parentes, quem sabe se não havia gente do meu sangue naqueles párias que passavam cheios de melancolia, passivos e indiferentes, como fragmentos de uma poderosa nau que as grandes forças da natureza desfizeram e cujos pedaços vão pelo oceano afora, sem consciência do seu destino e de sua força interior.

Entretanto, embora enchesse-me de tristeza o seu estado, eu não pude deixar de lembrar-me, sem algum orgulho, que o meu sangue, parente do seu, depois de volta de três quartos de século, voltava àquelas paragens radiante de mocidade, saturado de noções superiores, sonhando grandes destinos, para ser recebido em casas de pessoas que, se não foram senhores dele, durante algum tempo, tinha-o sido de outrem da mesma origem que o meu.

Eu vi também pelo caminho uma grande casa solarenga, em meio de um grande terreno, murado com forte muro de pedra e cal. Estava em abandono, grandes panos do muro caídos e as abertura fechadas com frágeis cercas de bambus. Eu me lembrei que a grande família de cuja escravatura saíra minha avó, tinha se extinguido e que deles, diretamente, pelos laços de sangue e de adoção, só restavam um punhado de mulatos, muitos, trinta ou mais, de várias condições, e eu era o que mais prometia e o que mais ambições tinha.

Ela fora mais caipora do que aquele muro sólido, porque extinguira-se, caíra de todo e não deixara de sua linha direta nenhum rastro.

Cheguei à casa do Uzeda.

Antes vi a vila. Há uma grande rua principal, com uma imensa matriz a cavaleiro dela, e toscas casas que a arruam. O trem passa embaixo e, junto ao paço municipal, é macadamizada. A câmara municipal é um caixão ignóbil. Não sei porque nós não sabemos fazer esses edifícios com o gosto que os arquitetos da Idade Média faziam os dos seus burgos. Que infâmia é a que vi! Entretanto, é moderna, tem menos de vinte anos. A capela tem o acabamento das torres em pirâmide; é sem gosto e soturna; não há uma casa com sentimento, e a gente tem o que ver, apenas nas das colunas, em que a escravidão pôs seus sofrimentos e as suas recordações.

A mulher do Uzeda é rapariga anêmica, dessas nossas [a] que a mocidade sabe dar um brilho singular com a sua fragilidade, mas que a maternidade e o tempo empanam e estiolam de modo lastimável. É morena, de curtos cabelos. Rosto em V, bom, para um rapaz inteligente e que nela, com seus hábitos de paciência que o professorado dá, empresta uma singular fisionomia de freira, que o olho direito mais estreito faz quebrar com certa canalhice.”

 

Fontes: A vida de Lima Barreto, de Francisco de Assis Barbosa, José Olympio Editora, 2002.

             Diário Íntimo de Lima Barreto, Biblioteca Nacional.

      

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Cidadãos do Patronato https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/cidadaos-do-patronato/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/cidadaos-do-patronato/#comments Sun, 19 Feb 2017 00:13:07 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1487 Continue a ler »Cidadãos do Patronato]]>

 

Instituição relevante no serviço social em São Gonçalo e no Estado do Rio de Janeiro foi o Patronato de Menores Abandonados do Estado do Rio de Janeiro, ou simplesmente Patronato de Menores, que deu origem ao nome do bairro de Patronato.

Ele teve início com o presidente (governador) Oliveira Botelho que, em dez de maio de 1912, baixou o decreto número 1247, abrindo crédito de 16:500$ para a compra do Sítio Jacaré, a fim de nele ser instalada uma colônia de alienados. À época, pertencia ao deputado e vereador niteroiense José Ferreira de Aguiar, que recebeu aquele valor em títulos podres do governo do Estado, a vencerem em 40 anos.

Retardaram-se as obras para a instalação da colônia de alienados e, na campanha eleitoral de 1914, o senador e então candidato oposicionista ao governo do Estado, Nilo Peçanha, veio a São Gonçalo em cinco de julho daquele ano, e assumiu o compromisso com seus correligionários de dar outra destinação àquele imóvel.

Fazenda Jacaré (foto: Dr. Sérgio Toledo Rodrigues) in Blog Tafulhar - tafulhar.com.br

Fazenda Jacaré (foto: Dr. Sérgio Toledo Rodrigues) in Blog Tafulhar – www.tafulhar.com.br

Vitorioso no pleito do dia 12 seguinte, Nilo Peçanha assumiu o mandato em 31 de dezembro do mesmo ano. Já presidente (governador) do estado, visitou a cidade em sete de fevereiro de 1915 e almoçou na residência de Augusto Travassos de Lemos, no centro; em primeiro de março aqui retornou, quando foi saudado pelo professor Armando Gonçalves; e, em cinco de setembro seguinte, era recepcionado na residência de José Paulo de Azevedo Sodré (futuro vereador e prefeito), em Cordeiros. Nas três ocasiões, foi cobrado sobre a colônia de alienados e sua nova destinação, o que o levou a ceder a área para uma entidade filantrópica ainda em 1915, em caráter experimental.

                     Tratava-se do Patronato de Menores Abandonados do Estado do Rio de Janeiro, fundado em Niterói em 23 de setembro de 1915, data em que foram aprovados seus estatutos e eleita sua primeira diretoria, presidida pelo desembargador Gustavo Alberto de Aquino e Castro, que tinha como companheiros o visconde de Moraes (José Júlio Pereira de Moraes, vice-presidente), o desembargador Luiz Antonino de Souza Neves e o promotor José Cortes Júnior (secretários), e os comerciantes Júlio Ribeiro Sobral (tesoureiro) e Antônio Gonçalves Lopes (procurador).

                     Coube àquela instituição instalar o Patronato e inaugurá-lo, com dez meninos, em 29 de junho de 1917, em cerimônia simples, a que estavam presentes apenas a diretoria, a imprensa, o Conselho Superior Administrativo (órgão do governo do estado) e o grande cooperador da obra, doutor Macedo Torres. Com sistema de internato, destinado apenas a órfãos do sexo masculino e com rígido (e por isso mesmo eficaz) sistema de ensino, ele preparou várias gerações de jovens para a vida produtiva em favor de si mesmos e da sociedade.

Mantê-lo não era coisa fácil, mas para isso a diretoria contava com ajuda de vários segmentos sociais, dos mais elevados aos mais baixos estratos. As obras de adaptação da casa grande mal começaram quando o coronel (da Guarda Nacional) Henrique Milhomens, dirigente da Tramway Rural Fluminense (primeiro sistema de transporte coletivo municipal de São Gonçalo), doou 100 contos de réis, em seis de maio de 1916, tornando-se benfeitor da entidade.

Inaugurado, contou com ajudas fundamentais, como a do comerciante Antônio Gonçalves de Miranda, que forneceu toda a alimentação, gratuitamente, de 1918 até sua morte, em 28 de dezembro de 1934; a da farmacêutica Anália Santos, que garantiu todos os medicamentos do primeiro dia até 1940; a do conde Pereira Carneiro, que em 25 de abril de 1922, doou 2.000$000 e todas as máquinas para instalação de sua primeira oficina; e a do português Domingos de Souza Marques, residente no Porto, que em 21 de junho de 1925 doou 200$000 e, nos cinco anos seguintes, mais 250$000 para os cinco melhores alunos; além de muitas outras pessoas que seria enfadonho aqui nominar.

Ele era de tal importância que os presidentes (como se chamavam os governadores na última década do século XIX e nas duas décadas iniciais do XX) nele estavam com frequência: Agnello Collet, em 1918, não só participava das reuniões da diretoria como dirigia a banca examinadora dos alunos; Raul Veiga aqui esteve em 15 de junho de 1920 para vistoriar as instalações; Feliciano Sodré, em 1925, doou tômbolas da Cruz Vermelha e os primeiros 18 instrumentos para a criação de sua banda de música (que em 1926 receberia a doação de 80 talabartes do Corpo Policial, atual PMERJ, e de 300 fardamentos de lã, do 2º Batalhão de Caçadores do Exército, depois 3º RI), e em 1927 designou duas professoras estaduais em oito de março e em sete de setembro criou a escola (hoje Coronel Tarcísio Bueno) para atender aos internos; Manoel Duarte, em 1928, premiou os alunos que mais se destacaram; Protógenes Guimarães, em 1936, a caminho de seu sítio (onde depois viria a ser instalado o Abrigo do Cristo Redentor) nunca deixava de parar no Patronato; e o interventor federal Amaral Peixoto e sua esposa, dona Alzira Vargas do Amaral Peixoto, inauguraram a padaria do Patronato em 19 de julho de1941. Para ajudar o esforço em favor das crianças órfãs, desde sua criação funcionava uma Associação de Damas de Honra, das quais uma das mais ativas foi a professora Antonieta Faustina.

Sua história começou a mudar quando a diretoria, a 17 de setembro de 1940, decidiu incorporá-lo à Obra de Assistência aos Mendigos e Menores Desamparados do Estado do Rio de Janeiro, mantenedora do Abrigo do Cristo Redentor de São Gonçalo, à época em construção. Em quatro de maio de 1943, a pedido de Levy Miranda, sua administração foi transferida à Fundação do Abrigo do Cristo Redentor da cidade do Rio de Janeiro que, em crise financeira, em 1963 devolveu-o ao ACR-SG. Com 279 internos e gastos cada vez maiores, o Patronato de Menores tornou-se um problema para o Abrigo do Cristo Redentor, cuja diretoria, em primeiro de setembro de 1967, resolveu deixá-lo sob a responsabilidade da Fundação Estadual de Educação do Menor (FEEM-RJ), que encerrou suas atividades e abandonou a área.

Hoje, o que era o Patronato de Menores está ocupado pela Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP-UERJ), Igreja de Nossa Senhora Aparecida (originária da capela inaugurada em 24 de junho de 1917), Colégio Estadual Coronel João Tarcísio Bueno (remanescente da escola estadual criada em sete de setembro de 1927 para os internos do Patronato e depois aberta à comunidade, cujo primeiro aniversário foi comemorado com a opereta A Ceia Original, de autoria de sua diretora, Cândida Silva, interpretada pelos alunos), Colégio Estadual Walter Orlandini, dois Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de São Gonçalo (Apae-SG) e uma associação de radioamadores. Há ainda duas invasões e a casa-grande da Fazenda Jacaré está igualmente invadida.

Sempre tive pelo Patronato enorme admiração e lembro-me de ver sua garbosa banda de música em vários eventos cívicos e sociais, mas o que nele mais me chamava a atenção era a formação que dava àqueles meninos e o orgulho com que todos eles se referiam ao Patronato, depois de dele saírem.

São casos exemplares os dos dois cidadãos aos quais tive o prazer de conhecer pessoalmente.

Um deles era Mário da Costa Dias, ou simplesmente “seu” Mário: Nascido na região de Santa Isabel, em 24 de setembro de 1916, perdeu o pai antes de completar um ano de idade. O dia seis de julho de 1917 foi uma tragédia: uma carroça da então Companhia Brasileira de Energia Elétrica (hoje denominada Ampla S.A.) passava sobre a péssima ponte que ali existia (pranchões de madeira, apoiados em concreto nas extremidades) quando uma das tábuas cedeu e o meio de transporte foi lançado às águas, morrendo afogados Olympio Dias e os dois muares que puxavam a carroça.

Aqui, é preciso abrir parênteses: até os anos 1950, o Rio Alcântara, caudaloso, registrara vários afogamentos, era navegável por pequenas embarcações e servia para escoar boa parte da produção da Companhia Eletroquímica Fluminense (onde agora há um bloco de edifícios) e da Companhia Industrial de Papéis Alcântara Limitada (onde hoje está um supermercado) até a Baía de Guanabara e daí ao Porto do Rio de Janeiro. Hoje, não passa de um valão infecto. Se alguém ali cair, morre de concussão cerebral ou, se escapar, de hepatite, leptospirose ou qualquer outra doença contagiosa. Afogado, só se for em dia de enchente. O Rio Alcântara é a prova de como nós, humanos, destruímos a Natureza nas últimas seis décadas.

Voltando a “seu” Mário: Órfão de pai, enfrentou a orfandade materna três anos depois, com a morte de sua mãe, dona Ermelinda da Costa Dias, vítima de doença não diagnosticada, e passou à guarda dos tios paternos, pelos quais foi internado no Patronato em 1921. Ali estudou até 1930, quando deixou a instituição e foi trabalhar, com 14 anos de idade, como auxiliar, na Garagem Niterói (no local hoje está o Plaza Shopping), onde complementou os conhecimentos mecânicos adquiridos no internato. Graças a trabalho dobrado e muita economia, anos depois montou sua própria cerâmica, em São Gonçalo, e criou máquinas para produzir telhas e manilhas em série, substituindo o trabalho manual comum à época. Espírito inventivo, durante a segunda Grande Guerra, com a escassez de combustíveis, preparou o motor de seu caminhão para funcionar com gás de carvão vegetal. Trafegava pelas ruas de São Gonçalo para fazer a entrega de seus produtos e agradava tanto aos passantes que passou a adaptar motores de caminhão, ônibus e automóveis para o consumo de gás de carvão. Por isso, ganhou o apelido de Mário Gasogênio até seu falecimento, em 30 de junho de 2002. Foi sepultado no Cemitério de São Miguel, em São Gonçalo.

                     Suas conversas, extremamente agradáveis, giravam quase sempre em torno de sua passagem pelo Patronato. Antitabagista convicto, lembrava a única vez em que colocou um cigarro na boca: era interno do Patronato e certo dia um visitante jogou uma ponta de cigarro no chão. Escondido, pegou a “guimba” e, quando deu a primeira baforada, foi surpreendido pelo inspetor de disciplina, que lhe desferiu uma bofetada, quase o fazendo engolir o que restava do cigarro. Concluía o relato com uma exclamação: “Bendita bofetada!”

Outro que conheci, mas não com tanta intimidade, faleceu mais recentemente, em 2007: Jayoleno dos Santos.

Nascido no bairro do Barreto, em Niterói, em oito de março de 1913, ficou órfão ainda criança, havendo seus pais falecido durante a epidemia da gripe espanhola em 1918. Criado, a partir daí, pelos tios, aos dez anos era matriculado no patronato e logo no curso primário destacou-se entre seus colegas, sempre promovido com distinção, conforme declaravam suas professoras, Haydéia F. de Siqueira, Zely Santos, Arina Mendonça de Almeida e Julieta Isaura Costa, das 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries, respectivamente. Foi em 27 de janeiro de 1925 que sua vida começou a mudar para melhor: naquele dia, o presidente (governador) Feliciano Sodré doou 18 instrumentos para a criação da Banda de Música do Patronato de Menores.

Jayoleno tinha admiração pelo som da flauta, mas não tocara em uma sequer. Mesmo assim, apresentou-se ao maestro, dizendo querer fazer parte da banda. Disse de sua preferência e recebeu um flautim. Ensaiou as primeiras notas, um ano depois já era revelação entre os colegas e, ao sair do Patronato, prosseguiu os estudos no Conservatório de Música de Niterói, com o mestre Arnaud de Gouveia. Aperfeiçoou-se na Escola Arcângelo Careli, dirigida pelo maestro Francisco Braga, e ingressou, por concurso, na Escola Nacional de Música, onde concluiu o Curso de Harmonia Superior e de História da Música. Em 18 de janeiro de 1936 fez o seu primeiro concerto no Teatro Municipal de Niterói e, em 1938, recebeu a medalha de ouro do prêmio de clarineta, na Escola Nacional de Música (hoje, da UFRJ), da qual foi professor. Lecionou também no Conservatório de Música de Niterói, participou da fundação da Orquestra Sinfônica Brasileira e da Sociedade Brasileira de Música de Câmara, das quais foi o primeiro clarinetista, e dirigiu e regeu a Orquestra Sinfônica de Niterói. Compôs, em 1947, a “Sonata para Clarineta e Piano”, a primeira do gênero no Brasil. É de sua autoria a música do Hino de São Gonçalo, letra do professor Geraldo Pereira Lemos, de 1970. O maestro Jayoleno dos Santos faleceu em 14 de julho de 2007, em Niterói, onde residia, e foi sepultado no Cemitério Parque da Colina.

Com a lembrança de Mário da Costa Dias e de Jayoleno dos Santos homenageio também todos aqueles meninos que passaram pelo Patronato de Menores e os que, direta ou indiretamente, contribuíram para que aquela instituição prestasse relevantes serviços às crianças e aos jovens fluminenses por cerca de 60 anos.

 

Fontes: Professor Fernando José Silveira, da Unirio, sobre Jayoleno dos Santos.

            Mário Jorge Rodrigues Dias, filho de Mário da Costa Dias.

            Emmanuel de Macedo Soares, jornalista e pesquisador em História.

            Expediente do Estado do Rio de Janeiro (antigo Diário Oficial), 12-05-1912, p. 1.

            O Fluminense, 13-05-1912, p. 1; 28-5, 29-05, 05-06, 01-07, 05 e 06-07-1914, p. 1; 07-02, 09-02 e 05-06-1915, p. 1; 20 e 24-04-1916, p. 2; e 07-02, 29 e 30-06 e 07-07-1917, p. 1.

            Gazeta da Manhã, 28-05 e 05-07-1914, p. 1.

            O Imparcial, 06-07-1914, p. 1 e 3.

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Haverá de chegar o dia em que algum historiador dedicar-se-á ao resgate da história daqueles que participaram do processo legislativo gonçalense, desde a sua emancipação, complementando a tarefa que alguns já fizeram em relação aos prefeitos e mesmo a certas figuras públicas destacadas (como o médico Luiz Palmier) também ocupantes de uma cadeira na Câmara Municipal.

Tal se impõe porque o próprio Poder Legislativo não sabe quem dele fez parte, desde a instalação da Câmara em 1893, e, por conseguinte, não conhece a vida de cada um. Esse esquecimento haverá de atingir, dentro de dez a 15 anos, se tanto, os que hoje ali se encontram, pois a nossa memória histórica é curta.

Porém, como pode aparecer alguém, provavelmente estranho aos quadros políticos e funcionais, que resolva executar esta importante tarefa, faço aqui meu alerta: não apenas os vereadores legislaram sobre o município.

Os primeiros que o fizeram foram os membros dos dois Conselhos de Intendência que administraram o município no seu nascedouro, ou seja, em 1890 e 1891. Para facilitar as coisas, dou-lhes os nomes: José Joaquim Ferreira de Alvarenga, Gustavo Miguel Duque Estrada Meyer, Luiz Mariano de Amorim Carrão, José Francisco de Faria, João Belizário Ribeiro de Almeida, João Ricardo Ferreira Campelo, Antônio Simplício da Costa, Artur Nunes da Costa Tibau, Antônio José de Bessa, Manoel Antônio da Costa, José Francisco de Paiva, Manoel Marques do Sacramento, Antônio José de Almeida e Antônio Vicente de Sá Malheiros Souto Mayor.

Entre eles, alguns, como Antônio Simplício da Costa e Manoel Antônio da Costa, vieram a ser vereadores nas eleições que se sucederam a partir de 1893.

O importante é que tenham dado formatação legal ao município em seus primórdios e que não sejam ignorados, o que ameaça ocorrer também com outros que legislaram alguns anos depois.

Se a Câmara Municipal funcionou normalmente a partir de 1893, também ela sofreu interrupção com a Revolução de Outubro de 1930, quando todos os chefes de executivo nacionais, estaduais e municipais foram afastados de seus cargos e as casas legislativas, fechadas. O Chefe de Governo, Getúlio Vargas, não quis, entretanto, deixar os interventores federais nos Estados e os prefeitos por estes nomeados sem nenhum tipo de controle. Para tanto, determinou a constituição de conselhos consultivos estaduais e municipais, que haveriam de ser ouvidos em questões essenciais. Eram arremedos de poder legislativo, mas ainda assim tinham alguma utilidade. No Estado do Rio, o interventor federal Menna Barreto baixou o decreto nº 2604, em seis de junho de 1931, instituindo os Conselhos Consultivos do Estado e dos municípios, e determinando que o primeiro teria onze componentes e os demais um número de acordo com a importância da cidade, não sendo nenhum dos conselheiros remunerados pelos cofres públicos.

No caso de São Gonçalo, nomeou em oito de outubro de 1931 o Conselho Consultivo, presidido por João Dale e integrado por Luiz Carlos Gonzaga do Couto, Alfredo da Silva Figueiredo Lacerda, Antônio Maciel Dantas e Alberto Torres Filho. Para secretariá-lo, o prefeito Samuel Barreira nomeou o funcionário municipal Celso de Queiroz Nogueira no mesmo dia de instalação do conselho, 18 de outubro, e depois o substituiu por outro servidor, Mário Barbosa da Silva, em 16 de fevereiro de 1932.

Mas foi efêmera a existência daquele conselho. Uma divergência sobre proposta de contrato para a instalação de um matadouro modelo na cidade levou o presidente João Dale a solicitar exoneração, no que foi atendido pelo interventor federal Ary Parreiras em três de março de 1932. O processo passou à órbita do Conselho Consultivo Estadual e os demais membros do órgão municipal decidiram também se afastar, sendo sua exoneração assinada por Ary Parreiras em 15 de setembro daquele ano.

A vacância, entretanto, fazia com que os processos se acumulassem e, por isso, o interventor federal Ary Parreiras nomeou o novo Conselho Consultivo Municipal, já agora mais amplo, em 21 de janeiro de 1933, integrado por Alfredo da Silva Figueiredo Lacerda, Firmino Cardoso da Silva, Ambrósio Passos de Mattos, Simplício Nunes da Veiga, Acácio Amaral dos Santos Lima, Alberto Torres Filho, Álvaro da Costa e Silva, Cezar Augusto Barcellos e comandante Otávio Nunes Briggs. Ele foi instalado em 26 de janeiro, quando elegeu o advogado Alberto Torres Filho seu presidente, e reunia-se duas vezes por mês, às terças-feiras. Sem remuneração, o conselho funcionou até 13 de agosto de 1936, quando foi empossada a Câmara Municipal eleita em cinco de julho do mesmo ano.

Embora fosse um apenso do Executivo, nem por isso o Conselho Consultivo Municipal deixa de fazer parte da história da cidade e não se pode ignorar a função legislativa exercida por seus membros.

 

Fontes: Livro de Atas do Conselho de Intendência do Município de São Gonçalo.

            Jornal do Commercio, 01-10-1890, p. 1; 23-04-1891, p. 2; 21-07-1891, p. 2; e 18-12-1891, p. 2, Biblioteca Nacional.

            Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 08-10-1931, p. 2; 03-03-1932, p. 1; 01-04-1932, p. 10; 09-07-1932, p. 6 e 7; e 15-09-1932, p. 2.

            O Fluminense, 07-06-1931, p. 1, Biblioteca Nacional.

            A Gazeta, 23-01-1933, p. 1, e 30-01-1933, p. 1, acervo de Cezar Augusto de Mattos.

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Nosso primeiro historiógrafo https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/nosso-primeiro-historiografo/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/nosso-primeiro-historiografo/#respond Sun, 05 Feb 2017 01:49:37 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1443 Continue a ler »Nosso primeiro historiógrafo]]>

 

Foi obra do acaso, é certo, mas mesmo assim tornou-se o primeiro relato sistemático sobre o surgimento do atual Município de São Gonçalo. Antes dele, outros escreveram relatórios sobre a então freguesia, mas ninguém de maneira tão densa.

Foi o monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, ou, simplesmente, monsenhor Pizarro, quem relatou sua visita pastoral às freguesias subordinadas ao Arcebispado do Rio de Janeiro, no final do século XVIII, entre elas a de São Gonçalo de Amarante. E citar a matriz católica gonçalense, além de outras igrejas, capelas e oratórios, é o mesmo que falar da história do município, pois foi ela o núcleo urbano inicial, principal cemitério da futura cidade durante cerca de trezentos anos, o centro dos casamentos, a fonte de várias iniciativas culturais, o pólo político por três séculos. Enfim, pela matriz passavam todos os fatos de relevância na vida da cidade e, nas demais igrejas, capelas e oratórios, também se davam os mesmos fatos, com foco nas localidades em que estavam.

Monsenhor Pizarro era carioca de nascimento, a 12 de outubro de 1753, filho do coronel Luiz Manuel de Azevedo Carneiro da Cunha e Maria Josepha de Souza Pizarro. Depois de fazer os primeiros estudos em sua cidade natal, matriculou-se na Universidade de Coimbra e ali se diplomou bacharel em Cânones. Aos 23 anos de idade, foi ordenado presbítero e, por decreto de 20 de outubro de 1780, confirmado em 23 de março de 1781, ocupou um canonicato na então sé fluminense, na qual tomou posse em 25 do mesmo mês de março. Muito jovem, não era só a religião que lhe interessava, mas também a História, a começar a da própria sé em que servia.

Começou a recolher documentos e teve o trabalho facilitado pelas visitas pastorais que lhe foram determinadas pelo bispado em 17 de agosto de 1794 e 10 de abril de 1799. Delas resultou a publicação dos nove volumes de sua obra intitulada “Memórias históricas do Rio de Janeiro, e das províncias conexas à jurisdição do vice-rei do Estado do Brasil”, editada pela Impressão Régia de 1820 a 1822. Antes disso, entretanto, foi para Portugal e ali, além dos deveres religiosos, recebeu o hábito da Ordem de Cristo, por decreto do príncipe regente Dom João, a quem acompanhou, na nau Príncipe Real, na vinda da corte portuguesa para o Brasil em 1808. Aqui, foi deputado da Mesa de Consciência e Ordens, procurador-geral das três ordens militares da corte, monsenhor e arcipreste da Capela Real, recebeu o título de Conselheiro do príncipe regente, cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, foi encarregado de lançar os hábitos das Ordens de Cristo e de Aviz, recebeu a comenda da Ordem de Cristo, no grau de oficial, foi nomeado para o Supremo Tribunal de Justiça e nele aposentou-se em 1828, além de ter sido deputado na primeira legislatura do Império (1826-1829), quando exerceu a presidência da Assembléia Geral. Em 14 de maio de 1830, aos 77 anos de idade, monsenhor Pizarro faleceu quando caminhava pela aleias do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. É patrono da Rua Monsenhor Pizarro, no bairro de Camarão, em São Gonçalo, RJ.

Da sua grande obra, vale uma leitura integral sobre o que disse ele da Matriz de São Gonçalo de Amarante, demais igrejas católicas, capelas e oratórios, cujos registros estendem-se de 1794 a 1819. E vale não só por isso, como porque ele enumera e nomina os proprietários de fazendas, os engenhos de açúcar e de aguardente, as olarias e outros detalhes que dão ao leitor uma imagem de como era São Gonçalo na virada do século XVIII para o XIX, além de remeter a períodos muito anteriores.

                     Se é o monsenhor Pizarro tido como primeiro historiógrafo a abordar a História de São Gonçalo, quem detém tal título hoje é o médico Luiz Palmier, que escreveu objetivamente sobre a cidade, em 1940, ao lançar livro comemorativo do cinquentenário de nossa emancipação. Antes dele, na década de 1930, o professor Proto Guerra já o fizera e também o coronel Rodrigo de Carvalho (um dos principais líderes do movimento que resultou na anexação do Acre, então boliviano, ao território brasileiro) editara a primeira estatística completa do município. Ambos os trabalhos foram entregues à Prefeitura Municipal, mas se perderam nos desvãos da nossa falta de memória histórica.

Depois, vieram o professor Homero Guião, na década de 1960, abrindo um novo ciclo de estudo da história do município; Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de São Gonçalo (IPDESG), na década de 1970, dirigido pelo professor Aurenildo Brito de Azevedo e pelo jornalista Reinaldo Coutinho da Silva; o Centro de Memória (Memor), do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos, presidido pelo professor Hélter Jerônimo Luiz Barcellos; a Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências (AGLAC); o Grupo Trovão Azul, de professores e alunos do Colégio Municipal Castelo Branco, sob a orientação da professora Maria José Gomes da Silva, na década de 1980, cujo trabalho foi perdido nos descaminhos da Imprensa Oficial do Estado, que se oferecera para editá-lo; o Instituto Histórico e Geográfico de São Gonçalo; e várias iniciativas isoladas de professores, historiadores, pesquisadores e jornalistas sobre a história do Município, entre eles a mestra Maria Nelma de Carvalho Braga.

Sem dúvida, é de 1996 um dos principais acontecimentos na historiografia gonçalense. Naquele ano foi criado o Grupo de Pesquisa História de São Gonçalo: Memória e Identidade, na Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP-UERJ), no bairro de Patronato, que até hoje tem estimulado, sob a orientação dos professores Luís Reznik e Márcia Gonçalves, a elaboração de teses e monografias sobre a História de São Gonçalo, entre estudantes daquela importante unidade de ensino, e publicou a principal obra didática que temos acerca do tema: a Caixa da História de São Gonçalo.   

 

Fontes: Monsenhor Januário da Cunha Barbosa, Biografia dos Brasileiros Distintos pelas Ciências, Letras, Armas e Virtudes, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, abril de 1840, p. 4/5, Biblioteca Nacional.

             Rui Aniceto Nascimento Fernandes, historiador.

             O Rio de Janeiro nas Visitas Pastorais de Monsenhor Pizarro, p. 247 a 271.

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Presença protestante https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/presenca-protestante/ https://www.fredericocarvalho.com.br/tema/sao-goncalo/presenca-protestante/#comments Sun, 29 Jan 2017 15:10:08 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1421 Continue a ler »Presença protestante]]>

 

Devido à colonização portuguesa marcadamente católica, a presença protestante em território brasileiro (e, por óbvio, no Rio de Janeiro e em São Gonçalo) é relativamente recente. Se aquela aqui fincou raízes duradouras já no século XVI, nem mesmo a tentativa de criação da França Antártica, na mesma centúria, sobretudo com huguenotes franceses, deixou marcas indeléveis na população.

Assim, só três séculos depois começou a se fazer presente o protestantismo, ou evangelismo (como queiram), e isto devemos em grande parte a um gonçalense, o pastor Francisco Fulgêncio Soren. Dele falarei um pouco adiante, após pequeno intróito sobre outros que aqui deixaram marcas tênues desse ramo do cristianismo.

Não existem, de fato, muitos registros, mas sabe-se que alguns pontos de pregação evangélica foram criados em residências no então distrito de Cordeiros, principalmente depois de ser publicada a lei geral (nacional) nº 3069, de 1863, de reconhecimento à celebração de casamento entre evangélicos. Porém, a defesa do protestantismo não era fácil, mesmo no princípio do século XX, como ocorreu em novembro de 1908, em Cordeiros, com o senhor Júlio (de sobrenome que desconheço) e um companheiro, os quais ali se aventuraram a pregar a Bíblia em praça pública e foram expulsos a pedradas. Quem tentou dar o primeiro grande impulso foi o missionário norte-americano Salomão Luiz Ginsburg (1867-1927), que quis se estabelecer em Neves, no final da década de 1880, não teve sucesso e foi para Niterói, passando a residir na Rua Andrade Neves, 61, centro. Quando estourou a Revolta da Armada (1893/1894), bombardeada a então capital fluminense, seus moradores fugiram para o interior e os ladrões saqueavam os imóveis abandonados. Nisso, entraram na casa do pastor Salomão e fizeram uma “limpeza” na noite de 28 de setembro de 1893, embora ele fosse um dos poucos que permaneceram na cidade, havendo produzido dois belos poemas – “Refúgio” e “Me esconde em Teus braços” – conclamando à permanência dos moradores. Nem ele suportou a violência e naquele mesmo ano foi para São Fidélis, RJ, onde foi preso por católicos radicais. Seis anos depois, em 1899, veio a ser espancado a pauladas em Macaé, RJ, causando acesos protestos do jornalista Manoel de Carvalho em defesa da liberdade religiosa. Ginsburg voltou a Niterói e se deslocou para o norte (a região Nordeste só viria a ser reconhecida em meados do século XX) do país, deixando plantadas na região as sementes de sua luta.

Voltemos, entretanto, àquele que considero figura principal do evangelismo no Brasil, em seus primórdios.

O ourives francês Pierre Soren chegou ao Brasil com o propósito de prestar seus serviços à corte aqui instalada pelo príncipe regente português, Dom João, e emancipada de Portugal por seu filho, o príncipe e depois imperador Pedro I. Soren fixou residência em São Gonçalo e encantou-se com a portuguesa da Ilha da Madeira, dona Cândida Pires [Soren, pelo casamento], com quem se casou na matriz de São Gonçalo. Do casal descenderam vários filhos, um dos quais, Francisco Fulgêncio, nasceu em primeiro de janeiro de 1869, na casa por eles habitada na Estrada da Conceição (hoje, Rua 18 do Forte).

Era católica a família Soren e Francisco tornou-se não apenas frequentador assíduo da Igreja Matriz, como adotou o cônego João Ferreira Goulart (1844/1903) para seu orientador. Chegado à juventude, decidiu seguir a carreira religiosa, mas antes foi aconselhar-se com o amigo cônego, que o desestimulou de fazê-lo (aqui, um esclarecimento necessário: há várias versões sobre o que Goulart lhe teria dito, mas o fato é que o próprio Soren, em suas memórias, não revela as razões que lhe foram apresentadas; ou seja, o que se diz por aí é tudo suposição). Francisco decidiu então estabelecer-se na corte como comerciário, em 1887, e alcançou sucesso financeiro, porém seu coração ainda desejava uma atividade religiosa. Certa noite, retornando de um baile para a residência, já então no Rio, ouviu uma música que ressoava de um ponto de pregação batista. Ouviu a preleção do pastor William Buck Bagby (1855/1939), ficou por ela cativado, mas foi ouvir o conselho do cônego Goulart, em São Gonçalo, que lhe deu uma bíblia de presente. Após lê-la, converteu-se ao protestantismo, abandonou o comércio em 1893 e seguiu para os Estados Unidos, a fim de ali formar-se no William Jewell College e no Seminário Batista de Louisville, ocasião em que conheceu a jovem Jane Filson (Soren), com quem viria a casar em 1905, deixando numerosa descendência. O pastor Francisco Fulgêncio Soren faleceu em primeiro de outubro de 1933 e foi sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, RJ. Conhecido como F. F. Soren, foi dele a construção do mais belo templo da Igreja Batista no Brasil, o do Rio de Janeiro, RJ, e também a instituição do seminário batista naquela cidade, importante para São Gonçalo.

   Essa importância está ligada à formação do pastor Manoel Avelino de Souza (1886/1962), designado para dirigir a Igreja Batista de Niterói, de onde ele projetou a instalação do tempo batista de São Gonçalo. Primeiro, instalou um ponto de pregação em Alcântara, em 1915, depois a transformou em congregação, em 1919, mesmo ano em que, por coincidência, adquiriu exatamente o imóvel que fora residência do cônego João Ferreira Goulart e ali fundou o templo em 29 de junho, o qual dirigiu até 1930, quando então o entregou à direção do pastor Waldemar Zarro. Também em 1919 surgia a Igreja Evangélica de Pachecos, que existe até hoje.

Antes de todos eles, era 1912 quando se instalou uma congregação batista na Rua da Lira (atual Rua Coronel Ernesto Ribeiro), nº 16, em Neves, que evoluiu para a Igreja Batista de Neves, fundada em 30 de março de 1930 e que teve em seu comando aquele que viera da PIB-SG, Manoel Avelino de Souza, até 1934, sendo sucedido pelos pastores Evódio Pinto de Queiroz (1934-1937), Waldemar Zarro (1937-1939), Alberto Araújo (1939-1996), Luís Roberto dos Santos (1996-2007) e Valtair Afonso Miranda (2008 aos dias atuais). Deles, o de maior projeção foi Alberto Araújo, professor de Português, Latim e Grego, que lecionou no Colégio Nilo Peçanha, em Niterói, foi diretor dos Colégios Cenecistas de Neves e Alberto Lessa (nos bons tempos em que eram gratuitos), fundou o Colégio Batista de Niterói e participou de todos os acontecimentos sociais de Neves. Nascido em 1910, faleceu em 1998 e teve moção de pesar aprovada pela Assembleia Legislativa, por iniciativa do então Deputado Hairson Monteiro. Na mesma década de 1910, reunia-se uma congregação evangélica na residência de Joaquim Goulart, em Cabuçu, que ali recebeu o ex-padre Hipólito de Campos para série de conferências, de 14 a 18 de março de 1917. Voltemos, entretanto, ao pastor Zarro, aquele que, a meu juízo, abriu as portas da cidade para o protestantismo.

Pastor Waldemar Zarro

Pastor Waldemar Zarro

Filho de Carlos Zarro e de dona Amélia Rodriguez Zarro, o menino Waldemar nasceu em Sapucaia, RJ, em 28 de janeiro de 1906, foi batizado na igreja católica local e consagrado a Nossa Senhora. Desistiu do catolicismo ao ouvir uma preleção do pastor Manoel Avelino de Souza, em visita à sua cidade, em 1921, e no ano seguinte matriculou-se no Colégio Batista de Campos dos Goytacazes, RJ, onde se formou no ginasial em 1925, transferindo-se para o hoje Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, obra do pastor Soren, e foi consagrado em 30 de setembro de 1930. Já então, seu amor colegial, Loide Reis [Zarro], era sua esposa, de quem teve os filhos Wilmar Reis Zarro e Loymar Zarro Pinheiro, e estabeleceu-se em São Gonçalo, onde recebeu a missão de suceder o pastor Manoel Avelino de Souza.

Antiga Primeira Igreja Batista em São Gonçalo.

Antiga Primeira Igreja Batista em São Gonçalo.

 

Seu trabalho inicial não foi fácil. O templo tinha apenas 70 membros (elevados para 1.300 até sua aposentadoria) e bem próxima estava a Igreja Matriz católica, dirigida pelo fundamentalista monsenhor José da Silveira Rocha, que proibira seus fiéis de passarem pela calçada em frente à Igreja Batista e referia-se a Zarro como “bode”, por ser ele maçom. A situação só mudou com a morte do monsenhor Rocha e a sua substituição pelo padre Godofredo Barenco Coelho (1905/1965), menos radical e que com Zarro fez amizade. Paralelamente, o novo pastor batista começava a abrir portas no fechado esquema político, religioso e social da cidade, para isso tendo a contribuição de um católico, o médico, vereador e deputado Luiz Palmier (1893-1955), também natural de Sapucaia, RJ, a quem o pastor muito ajudou na fase final da construção do Hospital de São Gonçalo e em sua posterior manutenção. No âmbito da própria igreja, que dirigiu até pouco antes de sua morte, Zarro não apenas construiu um novo templo, que inaugurou em 20 de abril de 1940 (e que era simples e acolhedor), como um segundo, inaugurado na década de 1950 e que, pela proporção, era cognominado “Maracanã das Igrejas Evangélicas” à época, respeitando o velho templo que ali existia e fora preservado até a década de 1990, quando foi posto abaixo para a construção do que chamo de “monstro de concreto”. O caminho aberto por Zarro foi trilhado pelo pastor Aníbal Nora, que viria a inaugurar em 10 de novembro de 1941 a Igreja Presbiteriana de São Gonçalo, e pelo pastor João Correia D’Ávila, aqui residente, ordenado em 30 de novembro de 1924, e que implantou a denominação Congregacional, além de tantos outros que, desde então, transformaram em parte a face religiosa do município.

Pastor Levi Melo - Foto do Facebook da PIBSG -

Pastor Levi Melo
– Foto do Facebook da PIBSG –

O pastor Zarro foi presidente cinco vezes da Convenção Batista Fluminense, membro das Convenções Batistas Fluminense e Brasileira, presidiu durante 21 anos a Junta Executiva da CBF, foi Juiz de Paz e membro, por vários anos, do Conselho de Jurados de São Gonçalo, duas vezes venerável da Loja Maçônica Perfeição Cruzeiro do Sul, foi incansável colaborador do Hospital de São Gonçalo, integrou o Rotary Clube de São Gonçalo e foi conselheiro do Conselho Estadual de Cultura do antigo RJ. Com isso, abriu as portas da cidade para o estabelecimento definitivo dos vários ramos do protestantismo na cidade. O pastor Zarro faleceu em dois de maio de 1974 e foi sepultado no cemitério de São Gonçalo, tendo sido seu nome dado ao Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) do bairro Brasilândia e a uma rua no bairro Nova Cidade, e por campanha popular (dirigida pelo professor Geraldo Pereira Lemos) seu busto em bronze (obra do escultor Honório Peçanha) foi colocado de frente para o templo batista, no centro da cidade. Com sua morte, foi sucedido pelo pastor Mauro Israel Moreira (hoje, nome de escola municipal), nascido no Rio Grande do Sul em 1950 e falecido em 2 de abril de 2002 no exercício daquela missão religiosa, momento em que a igreja ficou sob administração de um conselho pastoral, até 15 de fevereiro de 2004, quando a assumiu o pastor Levi Rodrigues de Melo, atualmente no comando daquele templo..

 

Fontes: Francisco Fulgêncio Soren, Intérprete de Cristo em muitas terras, de Lewis Malen Bratcher, tradução de Israel Belo de Azevedo, Junta de Educação Religiosa e Publicações da CBB, 1985.

            O Escudeiro Batista, edição de junho de 1974.

            Wikipédia, História da 1ª Igreja Batista de São Gonçalo, capturada em 27/05/2012.

            As Ruas Contam Seus Nomes, de Emmanuel de Macedo Soares, p. 144 e 145.

            João Marcos Soren, administrador da I PIBRJ e neto de Francisco Fulgêncio Soren.

            Wilmar Reis Zarro, filho de Waldemar Zarro.

            O Fluminense, 02-10-1881, p. 3; 24-09, p. 3, 30-09, p. 2, e 04-10-1893, p. 3; 12-08-1899, p. 1; 14-03-1917, p. 2; e 27-11-1924, p. 1.

  1. Gonçalo, semanário, 29-11-1908, p. 1.

            O Jornal,24-08 e 09-11-1919, ambos p. 8.

            A Gazeta, 28-06-1931, p. 1 e 4.

            O São Gonçalo, 14-04-1940, p. 1; e 09-11-1941, p. 2.

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