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Ecos do Passado – Professor Frederico Carvalho https://www.fredericocarvalho.com.br Seriedade e Respeito a São Gonçalo Mon, 12 Jun 2017 00:04:21 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.2.5 https://www.fredericocarvalho.com.br/wp-content/uploads/2020/09/cropped-favicon-32x32.png Ecos do Passado – Professor Frederico Carvalho https://www.fredericocarvalho.com.br 32 32 Solitário https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/solitario/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/solitario/#respond Mon, 12 Jun 2017 00:04:21 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1625 Continue a ler »Solitário]]>
Ecos do Passado XVII
 
Os dias se passavam e não saía da cabeça de Luiz a imagem daquele cachorro faminto e triste, que buscava sobreviver com um pouco de comida, de carinho e afeto. Luiz não entendia porque ele se fora. Talvez – pensou – tenha sido o impulso da natureza animal. Sim. Talvez tenha sido isso ou não. Cachorro, sem dono, enfrenta com denodo humano as coisas desumanas, refletia Luiz, perambulando pelas ruas sem destino, sendo discriminado, até mesmo espancado, inclusive por crianças levadas que faziam dele saco de pancadas e objeto de brincadeiras crueis.  
 
Luiz ficava dias sem sair de casa, sem vontade para nada, vivendo de suas economias dos tempos de corretagem na Bolsa de Valores. Negócio que migrara do Rio para São Paulo. Essa mudança provocou nele profunda tristeza e insegurança. Situação difícil que ia se agravando, porque se afastara completamente do antigo ambiente do trabalho. O problema não era dinheiro, mas a falta de companhia. Não da Bolsa, pois pouco ia lá. Ele resolvia as coisas pelo telefone, sentado na mesa de um bar próximo da Praça XV. Nesse estranho ambiente de trabalho, Luiz bebericava, conversava com pessoas que não eram suas amigas, mas que com elas fizera amizade, sem vínculo de proximidade. O bar era apenas um lugar que lhe servia ao mesmo tempo de escritório e de passa-tempo. Um ambiente favorável aos seus negócios.
 
Diariamente, entre dez horas e duas horas depois do meio-dia, quando os negócios de compra e venda de ações se intensificavam no pregão, Luiz ficava ao telefone, ligando para um e para outro corretor, informando-se da tendência para o fechamento dos negócios, determinando compra e venda de ações, de acordo com as necessidades dos investidores. Com esse trabalho, todos ganhavam ou perdiam. Os donos das ações em jogo perdiam ou ganhavam mais. Seus ganhos, como corretor dependiam da valorização das ações, mas não perdia nunca, porque ele tanto ganhava na compra como na venda, embora o mais importante era ganhar, porque assim mantinha sua carteira de clientes intacta.
 
No bar, fizera amizade com o proprietário, um português boa praça, cheio de graça, que gostava de pilheriar. Tinha até um garçom que fizera dele seu preferido. O garçom, vindo do interior fluminense, mas com raízes nordestinas, com cara de mestiço, de tez com de barro, era alegre e igualmente ao português, conversador e brincalhão. Luiz também, o garçom, passou a chamar o nosso Luiz de xará. Isto tempos depois da convivência deste no bar durante anos.
   
Voltemos ao nosso boa vida, leitores, pois desempregado e alimentando a esperança de voltar a trabalhar na mesma atividade que conhecia tão bem, Luiz refletiu muito sobre a possibilidade de fixar-se numa corretora do Rio. Tinha um problema. Era autônomo, segurava seus clientes num esquema que montou diretamente na Bolsa. E as Corretoras de Valores não gostavam nem um pouco dessa gente independente.
 
O cachorro depois de receber o almoço daquele dia, saiu a passear e desapareceu. Certo dia ele voltou, como naquele outro dia, faminto e sujo. Luiz o acolheu com largo gesto de respeitosa amizade. Dessa vez, Luiz fez-lhe subir à varanda. Deu-lhe um banho com sabonete e depois comida.
 
– É, amigo, somos só nós dois no mundo – pensou Luiz, olhando silenciosamente para o animal.
Desse dia em diante, o cachorro não deixou mais Luiz sozinho. E, em agradecimento pela companhia, recebeu até um nome: Solitário.
 
E os dois solitariamente viveram, mas…um dia tentaram recomeçar a vida.
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Sussurros e… https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/sussurros-e/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/sussurros-e/#comments Sun, 21 May 2017 15:41:06 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1615 Continue a ler »Sussurros e…]]>
Ecos do Passado XVI
 
 
Sonho ou pesadelo? O que aconteceu, enquanto dormia profundamente e com momentos  agitados, foi marcado por angústia. Coisa difícil de explicar. Mais fácil será tentar descrever os fatos, as ações e movimentos, alguns muitos tensos.
 
Nevoeiro ao cair da noite. Imagens desfiguradas, horripilantes, impossíveis de serem identificadas, clareadas de maneira a se tornarem suportáveis. Ouve-se gritos vindo de muito distante. Alguém estaria pedindo socorro, com voz quase inaudível. Apurando os ouvidos podia-se distinguir que eram pedidos de socorro.
 
Figuras à semelhança de espectros vaporosos, que se desfaziam nas sombras, se moviam bamboleantes para cima e para baixo, avançando sempre, desapareciam  em alguns momentos para voltarem em seguida, ainda sem possibilidade de identificação. Se afiguravam como fantasmas esvoaçantes, espalhando vapores no ar rarefeito e nebuloso.
 
E as vozes agora se multiplicavam em sussurros vagarosos, parecendo lamentos de pessoas em perigo iminente ou de quem algum parente ou amigo tenha falecido minutos antes. As vozes vão sumindo lentamente até não serem mais audíveis.
 
Fecha-se os olhos por alguns instantes e ao reabri-los descobre-se à frente, não muito longe, uma fileira de casas e de uma delas sai um homem alquebrado, meio curvado para a frente, cabelos em desalinho e molhados, com mechas embranquecidas entre os pretos naturais, vestido com trapos, calça e camisa rotas e sujas, fez um aceno com a mão direita, mas à sua frente não se via ninguém. Não se sabe para quem acena. Sabe-se que à sua frente tem um vasto horizonte vazio.
 
Luíza acorda em sobressalto, suando muito e assustada. Tateia com a mão trêmula o colchão da cama cuja coberta se apresenta inteiramente em desalinho. Acredita que, naquele momento, tinha voltado à vida. Veio-lhe à lembrança daqueles momentos terríveis, assustadores. Pensou que tudo não passara de um sonho, de um pesadelo assustador, com aquelas vozes ainda zumbindo nos seus ouvidos.
 
Olhando ao redor do quarto viu as cortinas impedindo a passagem da luz que vinha de fora. Não! Olhou para o relógio da mesinha de cabeceira e descobriu que ainda era noite, entrando pela madrugada. Exausta, tinha adormecido por mais de três horas desde que chegara em casa do passeio pelas ruas centrais de Niterói. Lembrou-se da espera angustiante de um táxi na Praça XV, Centro do Rio.
 
As crianças já estavam na cama. A empregada, uma senhora que morava ali perto, deixou Luíza dormir e esperou que ela acordasse no meio da noite para depois ir embora.  O marido de Luíza ainda não tinha chegado, embora já fosse tarde. Ela não se importava com isso porque não lhe era significativo. De uns tempos para cá, quando tudo começou a mudar em sua vida, a presença ou não do marido em casa não tinha nenhum significado.
 
 
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Páginas da Vida https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/paginas-da-vida/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/paginas-da-vida/#respond Sun, 07 May 2017 21:13:46 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1605 Continue a ler »Páginas da Vida]]>
 
Ecos do Passado XV
 
A volta de Niterói para casa não foi, como poderia ter sido, tranquila. Foi cheia de contratempos, inconveniências e chatices. Nas barcas – sim! porque é assim que se diz  no linguajar popular – a demora foi exasperante. Vendo que a estação estava vazia, Luíza comprou um livro de bolso numa banca de jornais e revistas ali próxima – desses escritos em papel grosseiro – para passar o tempo. Buscou um de escritor conhecido e o que encontrou, pelas condições em que estava, já tinha sido folheado por diversas vezes. O nome do autor, de quem pouco se ouve falar nos dias de hoje, Martins Pena, vinha estampado na capa em letras grandes. O livro reúne peças, entre elas, a engraçadíssima “Juiz de paz na roça”, representando comédias da vida privada, novelas de costumes em forma teatral, com dramaticidade hilária. Mais veio a saber que Martins Pena (1815/1848) era muito considerado, inclusive como pai do teatro brasileiro.
 
Começou a ler pacientemente e até se divertiu com ele, com as situações criadas pelo autor. As peças ridicularizam as relações de família, da sociedade em si e em particular da aplicação da justiça, numa cidade do interior, com espírito moral de forma jocosa. Estava absorvida na leitura  quando a barca  atracou e por pouco não a perdeu.  Um ligeiro esbarrão, um rapaz que saiu apressado da roleta, despertou-lhe a atenção, despregando os olhos do livro, passeou os olhos ao redor e começou a andar, ela também, na direção da plataforma das embarcações. Num relance pensou que o rapaz a esbarrou intencionalmente, pois virando-se em sua direção o rapaz sorriu e piscou maliciosamente. Sorriso maroto.
 
Caminhou. A distância entre eles era de alguns metros, o suficiente para ver direitinho seu jeito de andar. Caminhava leve e solto, como um colegial despreocupado, livre dos problemas da sala de aulas. Na saída da barca, na Praça XV, no Rio, Luíza procurou se distanciar do jovem o mais que pode. Caminhou para o ponto de táxis, sem pressa, apesar dos perigos com o cair da noite. Foi uma espera longa, exasperante. Ficou nervosa e começava a se irritar. O primeiro táxis chegou, mas estava indisponível. Chegara para apanhar um passageiro de Niterói.
 
A noite se aproximava e a espera se prolongava. Corria risco de ser assaltada. Sabia que no Centro do Rio, mesmo na Praça XV, com a movimentação nas barracas de comida, de venda de cachaça e peixes, fritos e crus, ninguém estava livre de ser assaltado, roubado, de sofrer uma agressão física. O odor forte no ar irritava. Felizmente chegou um segundo táxi. Luíza se aproximou. O motorista abriu a porta, indagou para onde ia.
 
Copacabana, por favor.
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Dias ensolarados https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/dias-ensolarados/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/dias-ensolarados/#respond Sun, 05 Mar 2017 15:13:13 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1520 Continue a ler »Dias ensolarados]]>

Ecos do Passado XIV

         O dia amanheceu ensolarado e foi se aproximando do meio dia com ares ameaçadores. Quase por volta de uma hora da tarde, algumas nuvens começaram a aparecer tisnando o azul celeste de um cinza escuro, mas muito espaçadas. Não havia concentração. Quando os ponteiros do relógio corriam lentamente para alcançar quatro horas da tarde, o céu já estava completamente escuro. Não havia dúvida que esse dia não terminaria como os outros dias, claros, ensolarados e ainda quentes.

         Luiz, recostado no espaldar da cadeira antiga refletia na varanda de casa. Um cão, animal de rua, aproximou-se da casa, farejando, olhando alternadamente para os lados, para o alto e para baixo, cabisbaixo, talvez assuntando o que viria de vir, o que poderia acontecer daquele momento em diante ao invadir terreno alheio. Fixou, com firmeza, seu olhar desalentado na direção de Luiz, como a solicitar ajuda, socorro imediato. Estava faminto. Ele queria dizer, com seu olhar implorativo, que estava com fome. Evidente. Estava com fome e procurava amparo. O animal era mais um enjeitado da vida, sem lugar certo para pernoitar, embora tivesse um vasto mundo ao seu dispor para percorrer, buscar, farejar e até mesmo fazer amizades.

         Luiz olhou de soslaio o animal que chegara e não se conteve. Dele se aproximou, procurou ganhar a sua confiança, mas não chegou a lhe acariciar a cabeça, pois temia ser agredido, muito embora o cão lhe parecesse cansado e sem forças para tal. O cão também mostrou ser amigo, querer amizade, mas que antes lhe desse prova de confiança, de reciprocidade, pois estava com fome. O piso do alpendre da casa era alto e não dava para lhe alcançar, mas se aproximou. Luiz se lembrou dos bons tempos, quando nos fins de semana saía com alguns colegas de trabalho, calçando sandálias, bermuda e gorro na cabeça, predendo os cabelos que se misturavam ao sopro do vento que vinha das montanhas e do mar.

         Nesses dias ensolarados, na companhia dos amigos, Luiz era sempre o dono de si e do mundo, desse vasto mundo sem imaginação, sem cólera e sem paixões. Seus olhos passeavam pelo vasto areal ao longo da praia de Copacabana, de Ipanema, observando as mulheres, jovens, bonitas, cheias de vida, sorridentes e felizes. Algumas acompanhadas de cachorrinhos pequinês, que conduziam ou eram conduzidas pelos animaizinhos igualmente felizes por estarem passeando em outro mundo, um mundo que era também todo seu e não apenas de sua dona.

         Voltando a si, Luiz olhou para o cão e acenou com a mão direita, como quisesse dizer: – Espera aí. Vou buscar alguma coisa para você comer, meu amigo, e entrou em casa. O cão deve ter entendido o acenou e esperou. Enquanto esperava, tristonho, mas esperançoso, deu novos olhares em volta do amplo terreno, de cuja terra verdejavam plantas nativas e outras plantadas em canteiros especialmente preparados para elas.

        

 

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Imagem Refletida https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/imagem-refletida/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/imagem-refletida/#comments Sat, 11 Feb 2017 00:21:08 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1475 Continue a ler »Imagem Refletida]]>

(Ecos do Passado XIII)

 

Vejam bem! Acreditam nisso? Quem acreditaria, pois, que uma entidade incorpórea, sem carne, sem osso, teria força, seria capaz, de induzir uma pessoa, qualquer pessoa, a amar alguém, voltar a amar alguém. Não! Isso, meus caros, jamais poderia acontecer, mas há quem acredite nessas coisas. Isto é alardeado, divulgado nos postes, nas árvores, nos muros, em tudo que for possível. Nem todas, mas algumas pessoas acreditam ter essa experiência com o passado através de almas mortas. São experiências inacreditáveis, inclusive no campo amoroso, paternal, maternal, entre amigos e amigas, e parentes. Traídos, jamais. Foram poucos os amores em vida, nunca traídos. Trocados, substituídos, talvez, em algumas circunstâncias. Quer dizer quando chegou aquele dramático momento em que não é possível continuar. Relâmpagos, trovões, chuva, de início fina, como uma garoa, e depois mais grossa, tempestuosa, respingando na janela do quarto, trovões e relâmpagos, não teriam sido responsáveis por nada que aconteceu ou poderia ter acontecido de pior.
 
Naquela noite tudo ia bem. Havia um clima  maravilhoso e uma flagrância que levariam a um bom termo a noite que não foi, nem poderia ter sido, planejada, mas que poderia terminar da melhor maneira possível, tomando o café da manhã no quarto, gargalhando e até aos abraços, mas…foi um horror.
 
Aquilo tirou-nos todas as forças e acabou por matar os nossos desejos que sequer tivemos oportunidade de aproveitar. Foi isso. Ficamos um olhando pro outro, paralisados, sem nada o que dizer. Aliás, amigos, impossibilitados de falar alguma coisa com nexo.  Na verdade…quer saber a verdade? Na verdade, naquela noite aconteceu uma coisa extraordinária. Uma terrível novidade. Essa novidade mexeu com todos os nervos, com todos os músculos, com o cérebro e…aconteceu aquilo. A vontade esvaiu-se, desapareceu e ficou sequelas. Uma coisa terrível. Foi um assombro, sabem. A partir daquele momento surgiu um novo mundo, novas condições de vida para todos nós, que afetaram também os amigos.  Vejam, então, que todos ficamos desorientados, porque ninguém em tais circunstâncias saberia de verdade o que fazer. Diria que se perdeu a identidade.
 
É importante esclarecer essa parte da questão, pois todos que nos vêm acompanhando, mesmo que por algum acaso tenham pulado algumas linhas ou tenham se esquecido de ler-nos seguidamente, sem saltar algumas linhas, fechando-se em si mesmos, sabem que nosso conhecimento, o início de nossas relações foram, por assim dizer, quase desprovido de sentido. Não havia nada premeditado, apenas coincidências. Apenas nos víamos ocasionalmente. O que houve foi uma espécie de magnetismo. Uma atração súbita de um pelo outro. Trocamos olhares, sabores momentâneos de empatia pessoal e, provavelmente estimulados pela música do maestro Tom Jobim, de Vinicius de Moraes, aconteceu o que todos já sabem.
 
Conto isso com certa amargura, porque estava sentado num banco de praça, corpo e mente, carne e osso, quando descobri que a noite chegara lentamente. Um vulto, uma imagem distante, olha para trás, e até de lado, como se estive acometido de labirintite, dançando nas nuvens, fazia um esforço tremendo para se aproximar. Dava uns passos pra frente, mas subitamente estancava, acontecia de jogar o corpo levemente para os lados, esforçando-se para desapegar-se, mas nada. Não seguia em frente. Aí, num piscar de olhos, sumiu-se.
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Vozes do Inconsciente https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/vozes-do-inconsciente/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/vozes-do-inconsciente/#comments Wed, 18 Jan 2017 23:52:20 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1397 Continue a ler »Vozes do Inconsciente]]>

Ecos do Passado XII

 

Luiz ouve uma voz, insistente e firme, ameaça: trago seu amor de volta. E acrescenta: o trabalho é garantido. Não tem como reagir contra, tentar impedir o feitiço, porque é coisa d’África, herança cultural de grandes espíritos do bem, de antigos mestres espirituais que transmitiram ensinamentos aos longos dos séculos, sem impedimentos misteriosos de almas penadas.
 
Luiz pensa: – devo estar sonhando…delirando. Não pedi nada. Não quero nada. 
 
A voz, agora mais firme, e menos insinuante: não acredita!
 
E Luiz, incrédulo, não acredita ter ouvido com nitidez a voz que lhe pareceu vir de longe, de muito distante. Um pouco apavorado, pensa acreditar em algo muito estranho, uma natureza morta rediviva chegando aos seus sensíveis ouvidos. Ora, seria isso coisa de almas endemoninhadas, desconectadas da vida e que buscam amparo ao tentar salvar outras almas penadas.
 
Verifica, beliscando-se, e confirma. Não estava dormitando. A sua volta existia a escuridão e nele a certeza de que não estava delirando. Realmente ouviu isso, mas quem poderia ser. Como isso poderia estar acontecendo. Ah! não sei – pensou. Apenas uma ou no máximo duas vezes chegou a cogitar em reencontrar-se com Luíza, mas logo essa tal possibilidade saiu da sua cabeça. Acreditar numa reconciliação seria uma possibilidade difícil de se concretizar, pois não saberia como isso poderia acontecer se durante todo esse tempo nenhum sinal de reaproximação aconteceu.
 
Mas…se não há interesse, porque se houvesse já teria o procurado e proposto um reencontro amoroso. Saberia onde encontrá-lo. E medita:- não sei, mas isto seria até possível se houvesse dentro dela um pouco de tenacidade, de desejo incontido, mas não acredito que tivesse. Se não o procurou era porque não estaria disposta a largar tudo por ele. Não! não! não! Certo é que tudo estava acabado. Acredita que ela quer mais é ficar com a família, reconstruir a vida.
 
Então, não tem como ela sair correndo, desesperadamente, para os seus braços. Nos quais ela não teria o conforto que, ao encontrarem-se, naquele ambiente agradável, apropriado para os encantos do coração, Luiz percebeu de imediato que se tratava de uma pessoa diferente, que vivia uma vida deliciosa no seio de seus familiares e amigos, deveria ter pensado em ter apenas uma certa aventura sem comprometimento sério que, surpreendemente, poderia arruinar a sua vida de mulher aparentemente independente, mas que não era bem assim. Tinha suas responsabilidades.
 
Por isso Luiz passou a acreditar que nenhuma força no mundo, nessa altura da vida, impulsionaria seu coração ao encontro do seu, e retomar o que deixou para trás. É inteiramente impossível ela tentar esse reencontro e dizer: – amor, perdoe-me.
 
Isso é inteiramente impossível, pensou Luiz, que leu, poucos dias atrás, em um muro da cidade que seria possível trazer o amor de volta, exatamente com a mesma paixão, o mesmo calor, fidelidade… E falou para si: Não! Isto é uma coisa insana. É possível que essa promessa, esse comprometimento, seja uma farsa. Uma armação para ganhar dinheiro. Uma ilusão  com chama de esperança para enganar, iludir, toldar as mentes dos apaixanados.
 
– Não caio nessa. Não entro nesse jogo de cartas. Hoje me sinto mais seguro e crente de que o que passou, passou e o passado não tem volta. Não quero sofrer mais do que estou sofrendo. Não sei onde ela está, como ela está, nem pelo que está passando. Agora o que quero é ir em frente e continuar vivendo…vivendo uma vida nova, não novos desatinados desafios – assim pensou com conficção e firmeza, chegando a conclusão de que tudo estava acabado e ele agora era outro e não mais aquela pessoa mesquinha.
 
Afinal, concluiu que não seria fácil superar a dor, os desgostos e as desventuras que atingem o âmago da alma.
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Campo Minado https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/campo-minado/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/campo-minado/#respond Mon, 09 Jan 2017 13:34:24 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1387 Continue a ler »Campo Minado]]>
 
Ecos do Passado XI
 
O ano é 199…Movimentos nervosos se espalham e tomam conta da cidade e sabem por quê? Há uma certa rivalidade, a princípio enevoada, sem contornos identificatórios, entre as metrópoles Rio e São Paulo. Nesta trabalha-se duro pela sobrevivência. São pessoas simples, sem noção da importância de seu trabalho para a grandeza do estado e da metrópole, cuja população cresce desmedidamente, gerando problemas mas também riqueza. Mas é importante que se registre que esse crescimento de trabalho, com suas fábricas, indústrias, comércio, também gera desigualdades sociais, com muitos ricos desfrutando do suor, lágrimas e sangue dos pobres trabalhadores, que lutam diariamente para ganhar o pão de cada dia. Os ricos, embora dispunham de tudo, ou quase tudo que a vida lhe oferece, vivem sôfregos, angustiados, na luta para garantirem e aumentarem os respectivos patrimônios.
 
A questão é a seguinte: nenhuma nem outra cidade quer perder o status quo. E seus homens e mulheres trabalham…trabalham. A Bolsa de Valores, o mercado financeiro, os bancos e os investimentos lucrativos estão no centro dessa demanda por prestígio e mais dinheiro. Luiz quer voltar a ser o que era antes, quer entrar nessa guerra, mas está indeciso. Reflete e busca os meios que lhe permitam reingressar no ambiente de negócios ao qual pertencera por longos anos. Esse ambiente de gente endinheirada, do qual Luiz se afastou de maneira inexplicável, se encontrava em efervescência, numa luta intestina, envolvendo agentes financeiros públicos e privados, e o campo minado poderia causar  graves consequências ao corretor de valores.
 
O mais prudente seria aguardar e foi o que ele fez, pois ainda lhe sobrava algum dinheiro para tocar a vida. Mas a situação em que se encontrava não era tranquila. Seu estado emocional, sua mente confusa, não era nada agradável. Em alguns momentos tudo lhe parecia insuportável, como se não tivesse nenhuma razão de viver. Estado terrível que até lhe dava fortes dores de cabeça de tanto pensar e imaginar coisas. Queria trabalhar, mas não econtrava ânimo. O que ele poderia fazer, se não saberia fazer nada além daquilo que fez a vida inteira: convencer as pessoas de que o risco de investir em papéis volatéis tinha lá as suas vantagens.
 
Naqueles anos, o país vivia de fabricar papéis com $$$$$ estampados no frontispício e vendia a ilusão de lucro fácil para todos. Mas não era bem assim e Luiz sabia disso, mas ele ganhava a vida como vendedor de ilusões. Agora, no entanto, vivia uma situação inadequada, na qual para se mexer teria que arriscar a própria vida. E muitos foram mortos por isso…a ganância.
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A Sombra de Luíza https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/a-sombra-de-luiza/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/a-sombra-de-luiza/#respond Tue, 20 Dec 2016 14:55:44 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1343 Continue a ler »A Sombra de Luíza]]>
 
Ecos do Passado X
 
São anos da década de 90. Movimentos nervosos se espalham e tomam conta da cidade e sabem porquê? Há uma certa rivalidade, a princípio enevoada, aparentemente sem contornos identificatórios, entre as cidades do Rio e São Paulo. Nesta, o trabalho é árduo pelo sobrevivência de homens simples e outros endinheirados. Aqueles lutam para ganhar o pão de cada dia e estes, os paulistas ricos, sôfregos, angustiados, procuram desesperadamente preservar e até aumentar os seus bens materiais.
 
A questão é a seguinte: nem um, nem outro, quer perder a posição social. Quem está na base  quer o topo da pirâmide e quem está lá em cima se esforça para não descer. E seus homens e mulheres trabalham…trabalham… A Bolsa de Valores, o mercado de capital e financeiro, os bancos e investimentos lucrativos estão no centro dessa discórdia e guerra fratricida. É de fato uma guerra e existe o risco calculado de uma cidade ou outra sair perdendo, arrastando ao desemprego muitos trabalhadores.
 
Luiz quer voltar a ser o que era. Quer entrar nessa guerra, mas está indeciso. Reflete e busca os meios que lhe permitam reingressar no ambiente ao qual pertencera por longos anos, de gente rica, do qual  se afastou de maneira extraordinária, inexplicavelmente extraordinária, que agora se encontrava em efervescência, numa luta intestina, envolvendo agentes financeiros públicos e privados, e o campo estava minado, ao ponto de causar graves consequências ao corretor de valores que nele se aventurava.
 
O mais prudente seria aguardar e foi o que Luiz fez, pois ainda lhe sobrava algum dinheiro para tocar a vida. Mas em sua cabeça ainda pairava uma sombra, a sombra de Luíza, cuja imagem angelical, de uma inocência primitiva, suave, cujos olhos e gestos transmitiam sentimentos de amor puro, mas que algo não lhe permitia entregar-se como desejaria, diante das circunstâncias daquela noite tempestuosa, que enegrecera a lua e paradoxalmente clareava o horizonte com os raios dos trovões que espoucavam no ar.
 
Luiz ainda alimentava uma esperança, desejava um reencontro, mas provavelmente isto seria quase impossível. Não sabia de fato quem era, onde morava, se estava disponível. Dela, na verdade, não sabia nada. Então ele teria que se resignar e buscar uma nova vida. Mas…o homem, enfim, jamais pode abdicar de ser feliz.
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A noite e suas lembranças – Ecos do Passado IX https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/a-noite-e-suas-lembrancas-ecos-do-passado-ix/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/a-noite-e-suas-lembrancas-ecos-do-passado-ix/#respond Wed, 14 Dec 2016 00:16:51 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1308 Continue a ler »A noite e suas lembranças – Ecos do Passado IX]]>

 

O pensamento vagueia ao longe, enquanto seu corpo repousa. Nada o incomoda, nem mesmo a leve brisa que sobressai da calmaria da noite invadindo a varanda de casa, balançando a folhagem do pomar. Um cheiro suave invade o ar, a casa e o corpo do homem que parece não existir para o mundo.
Num determinado momento o corpo estremece levemente. Alguma lembrança. Sim. Talvez alguma lembrança de um passado não muito remoto. Um passado que permanece no subconsciente que retornava para agitar os pensamentos. Ao mexer-se corpo faz uma leitura desse passado. Os lábios esboçam um leve sorriso, mas não se expandem, não demonstram largueza. É apenas um esboço de um riso interior.

Um pequeno retrato de mulher, uma jovem mulher conduzindo duas crianças, caminhando devagar, sem pressa nenhuma, distraída, focada apenas nas crianças. As crianças parecem se divertirem. Não vão para a escola. Estão passeando. Sim. Estão fazendo um passeio pelo parque. Lá na frente, outras crianças se divertem sob o olhar vigilante das mães que conversam entre si, mas sem tirar os olhos das crianças.
Em sua mente, a mulher lhe parece familiar. Estranho é que ele não tinha essas informações: ela tem filhos, dois filhos, um menino e uma menina. Não sabia que era casada e não sabia nada a respeito da vida dela, da família, do marido e dos filhos. Entregou-se ao devaneio. Mas…a imagem fugiu. A mente repentinamente ficou vazia, não tinha mais nada, nem mulher, nem crianças, nem parque.
Nada. Nada.

Voltando a si, Luiz descobriu-se na varanda de casa, olhando para o vazio. A brisa cresceu e virou ventania, prenúncio de tempestade, devolvendo-o à realidade presente. Sentado estava, sentado ficou, imóvel e pensativo, procurando descobrir-se nesse mistério. Cochilou, adormeceu e foi tragado pela brisa que o conduziu ao sonho inesperado da fresca noite de verão.

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Quem somos nós? – Ecos do Passado VIII https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/quem-somos-nos-ecos-do-passado-viii/ https://www.fredericocarvalho.com.br/autores/pereira-da-silva-pereirinha/quem-somos-nos-ecos-do-passado-viii/#comments Wed, 30 Nov 2016 00:49:04 +0000 https://www.fredericocarvalho.com.br/?p=1279 Continue a ler »Quem somos nós? – Ecos do Passado VIII]]>
 
 
Temos muitas dúvidas, principalmente sobre nós mesmos. Aonde haveremos de ir. Onde poderemos chegar. Vemos ao longe um longo caminho à nossa frente, mas que caminho é esse e aonde nos levará. Estamos na cidade, mas não parece, da maneira que vemos a nossa cidade, um lugar tranquilo. Eu, particularmente, vejo uma espécie de colmeia, uma cidade repartida, partida. Nela não vemos os amigos de sempre. Não os encontro nos lugares de sempre. Tudo me parece estranho e singular como se não existisse no tempo e no espaço. Caminho lentamente, observando as coisas, os estabelecimentos comerciais, alguns a alguma distância, outros mais próximos, aqui e ali uma mulher, um homem, uma criança conduzida pela mãe, pelo pai ou, sei lá, por uma pessoa qualquer da família.
 
Nós somos o que somos porque talvez acreditamos que sejamos algo para alguém. Deve ser alguma lembrança, uma imagem do passado que voltou à mente, mas que pode significar alguma coisa para esse alguém e nada para nós, mesmo porque não temos nenhuma ideia do que significamos para esse alguém. Na verdade, nesse labirinto da colmeia trabalhamos, trabalhamos e continuamos vivendo um ciclo de vida insignificante, porque o produto do nosso trabalho pode até ser importante para esse alguém, para a vida de alguém, mas para nós…é apenas trabalho.
 
A família. Ah, a família! Existe e continuará a existir, mesmo se passassemos a não existir. Ela saberia se cuidar. Saberia, mesmo sem nós, enfrentar o ciclo da vida. Alguém poderia ajudar a superar as dificuldades da vida, mas nós…Eu e ele. Quanto a ele, eu não sei. Sim. Eu, porém, como ficaria? Não consigo ainda entender a nossa separação. Naquela noite, vendo a chuvar cair, só uma ideia  ficou clara na minha mente, que era possível superar tudo e voltar a viver. No entanto, ainda sinto o gosto amargo da decepção, do constrangimento e da separação.
 
Eu sou Luíza e sigo em frente, tentando superar essa situação, mas não é fácil. Acredito que ele, provavelmente também esteja na mesma situação. Acredito que sim. Sei que a minha vida dificilmente será a mesma, mesmo porque minha crença na vida foi seriamente abalada. É inacreditável, mas é a pura verdade. Todos nós, independentemente de quem sejamos, sofremos muito com essas inquietações que nos afligem.
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